Após a frustração de chegar tão perto de uma final olímpica, a volta por cima veio imediatamente e de forma épica. Na disputa pela inédita medalha olímpica para o tênis brasileiro, Luísa Stefani e Laura Pigossi salvaram quatro match points e, de virada, venceram as russas Elena Vesnina e Veronika Kudermetova para conquistar o bronze em Tóquio nesta madrugada. Um dia histórico para o tênis brasileiro!
Como nas partidas anteriores da dupla, a decisão do terceiro lugar teve muita emoção e foi decidida nos detalhes, com muita garra e determinação de Stefani e Pigossi em cada ponto, até o último. Depois de perder o primeiro set por 6 a 4, elas mantiveram o foco e conseguiram devolver o placar na segunda parcial, levando o jogo para o super tiebreak. No desempate, chegaram a estar atrás em 9 a 5 e tiveram que salvar quatro match points e vencer seis pontos seguidos para realizar a maior conquista do tênis brasileiro na centenária história das Olimpíadas.
- Uma emoção surreal, não tenho palavras para descrever o sentimento dessa conquista! Acho que a ficha não caiu ainda, mas muito feliz por conquistar essa vitória em um jogo com tantas emoções e levar essa medalha para o Brasil. Essa medalha é pra vocês - disse uma emocionada Luísa Stefani, ainda em quadra logo após a conquista.
Nem mesmo nos áureos tempos de Gustavo Kuerten como número um do mundo e tricampeão de Roland Garros o Brasil conseguiu a tão sonhada medalha em Jogos Olímpicos - Guga parou nas quarta de final em Sydney 2000. O mais perto que havíamos chegado foi com Fernando Meligeni em Atlanta 1996, que, assim como nossas meninas bronzeadas, chegou como azarão e foi derrubando favoritos até a semifinal, quando perdeu para o espanhol Sergi Bruguera e posteriormente para o indiano Leander Paes na decisão do bronze, ficando fora do pódio.
Aliás, o próprio Guga, assim como vários outros ex-tenistas, celebraram muito a histórica conquista olímpica, com posts nas redes sociais ao longo do dia.
- Vitória histórica!! Parabéns pela conquista desse nosso sonho, medalha inédita para o tênis brasileiro! Simplesmente fantástico - comemorou o catarinense, marcando as tenistas e toda a comissão técnica que as acompanhou na campanha olímpica.
Bruno Soares, que chegou a ir para Tóquio mas não pode participar dos Jogos em virtude de uma crise de apendicite a caminho do Japão, também deixou seu registro emocionado, da realização de um sonho coletivo do tênis nacional.
- Obrigado por realizarem o meu sonho. Sem palavras pra descrever esse momento. Que emoção, que exemplo, que raça, que dia. Histórico - resumiu o mineiro.
Marcelo Melo, que formou dupla com Stefani na chave de duplas mistas, também vibrou com uma entusiasmada e esperançosa mensagem por maior incentivo ao tênis no Brasil:
- Parabéns pra dupla das meninas! Lutaram do primeiro ao último ponto, salvaram match points, acreditaram em vocês e na equipe! Medalha mais que justa! Muito feliz por vocês, aproveitem e curtam bastante!! Espero que incentive a garotada a acreditar no sonho de conquistar uma medalha, um Grand Slam ou de até mesmo ser um tenista.
De quase fora a medalhistas nas Olimpíadas
A grande curiosidade da participação histórica das brasileiras aconteceu ainda antes de pensarem em ir para o Japão. Como as chances de entrarem na chave de duplas femininas era muito pequena, nem Luísa nem Laura contavam com a realização desse sonho e sequer sabiam que tinham sido inscritas pelo diretor da Confederação Brasileira de Tênis, Guilherme Frick, para a chave do torneio.
Como estar inscrito no evento é pré-requisito básico para pleitear uma vaga em qualquer competição de tênis profissional, após múltiplas desistências de tenistas melhores ranqueadas as brasileiras entraram no torneio no último dia de inscrições, em 16 de julho. Portanto, apenas uma semana antes da estreia nas Olimpíadas, que começou no dia 24.
Aí foi correr para organizar a viagem e o primeiro capítulo da realização de um sonho: disputar uma Olimpíada. Mas nem o mais otimista amante do tênis poderia imaginar que essa história teria vários outros capítulos até o bronze olímpico. Fruto do talento e perseverança das atletas, que acreditaram desde o início e caminharam, ponto a ponto, rumo ao inédito pódio do Olimpo esportivo.
Salve o tênis feminino brasileiro! E que tenhamos mais meninas e mulheres praticando a modalidade e nos representando mundo afora, como Luísa e Laura, de forma espetacular, fizeram em Tóquio.