Por Diego Werneck
Há os grandes jogadores, aqueles fora da curva. Existem ainda as lendas, os que cravaram seus nomes na história do esporte por múltiplas conquistas, que enfileiram troféus e quebram recordes. E têm aqueles que simplesmente não há uma expressão que completamente os definam, pois transcendem os resultados, números e títulos. E certamente Rafael Nadal está nesse seletíssimo grupo.
Não restam dúvidas, quando falamos em estatísticas, que Djokovic se tornou o maior vencedor da história do tênis. Assim como não se questiona a refinadíssima técnica e elegância de Roger Federer, outra lenda e que recentemente também deixou o circuito. Mas para falar de Rafael Nadal, é preciso muito mais que números e obviedade. É tentar, com uma quase certeza de insucesso, descrever uma figura que mudou a forma como o mundo enxerga o tênis, nas suas mais variadas facetas.
O Miúra foi, ao longo da sua vitoriosa carreira, uma mistura muito bem equilibrada de força física, leitura apurada do jogo, mentalidade vencedora e senso ético indiscutível. A combinação incomum dessas habilidades fez de Nadal um dos melhores tenistas de todos os tempos, ficando no auge por mais de uma década e em uma era que contava com outros dois gênios e um extra classe, o não menos vencedor Andy Murray.
O anúncio da aposentadoria feita por Rafa nessa quinta-feira assustou o mundo do tênis, embora não fosse surpresa que estava próxima. A luta contra seu próprio corpo já vinha o atormentando há pelo menos dois anos, e a volta em 2024 depois de quase um ano se recuperando não foi da maneira como ele gostaria nem como os fãs imaginaram. O corpo cobra o preço de tanto sacrifício, por tantos anos, especialmente para um jogador tão físico quanto Nadal.
Apesar da frustração recente, dele próprio e de torcedores, não há nada do que se queixar. Como ele próprio disse no discurso de anúncio da sua aposentadoria, “foi uma jornada muito mais incrível e bem-sucedida do que poderia sonhar”. Uma bela pitada de humildade para um tenista do seu quilate, o que, mais uma vez, não surpreende pela sua personalidade simples, transparente e honesta. Foi apenas um dos últimos atos da sua gloriosa carreira embalada por uma postura sempre impecável, elegante e respeitosa com todos ao seu redor e para além.
Rafa nunca quebrou uma raquete, nem desrespeitou um juiz ou qualquer outro profissional do meio. Nem mesmo em dias difíceis e recebendo aquelas perguntas capciosas nas coletivas de imprensa se alterou e foi rude com algum jornalista. Atende a todos os fãs com atenção e carinho, independentemente se vence ou perde um jogo. Um exemplo para muito além do atleta dentro de uma quadra, mas também como ser humano ao lidar com pessoas, nas mais diversas situações e ambientes.
Somado ao talento moldado para conquistas, esse provavelmente é o maior legado que o espanhol deixará para as próximas gerações de tenistas e amantes desse esporte. Buscar as vitórias e conquistas, sempre; mas nunca a qualquer preço. Seu amigo, o também incrível Roger, pode comprovar isso tendo sido um dos seus maiores rivais no circuito…
Parabéns pela brilhante carreira, Rafa! E obrigado por tanto!
Vamos!!