Carlos Bernardes atuou neste domingo em mais uma final do Rio Open, arbitrando o duelo entre os argentinos Mariano Navone e Sebastian Báez, o novo campeão do ATP 500 carioca. Pode ter sido a última vez que o público brasileiro tenha visto Bernardes em ação em solo nacional.

Uma das figuras mais respeitadas no tênis brasileiro nas últimas décadas, o paulista de 58 anos anunciou que encerrará sua notável carreira como juiz de cadeira de nível máximo no circuito internacional ao término da temporada de 2024. 

Atualmente radicado na Itália, Bernardes planeja um calendário mais curto em sua despedida, com um total de 22 semanas de arbitragem. Seu objetivo pós-aposentadoria é fornecer suporte àqueles que estão começando na carreira, especialmente considerando as restrições cada vez maiores nos torneios de nível challengers e ITFs, uma vez que a ATP adotará marcação totalmente eletrônica a partir de 2025.

A paixão de Bernardes pelo tênis teve início aos 12 anos, quando, junto a um amigo, pulava o muro do estádio de São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, para jogar na quadra do Lauro Gomes. Inicialmente excluído da escolinha, ele improvisava uma rede com um cavalete de atletismo. Aos 16 anos, após a morte de seu pai, começou a dar aulas no clube.

A oportunidade de ser juiz de linha em torneios no Brasil surgiu como uma maneira lucrativa de complementar sua renda. Observado por uma juíza americana durante o torneio de Itaparica, Bernardes foi convidado a atuar em Miami em 1992, abrindo portas para sua notável carreira.

Seus momentos de destaque incluem as finais do US Open de 2006 e 2008, além da histórica partida em Wimbledon de 2011, que resultou no primeiro título de Novak Djokovic. Ele também esteve presente na decisão do ATP Finals de 2016, onde Andy Murray conquistou o título.

Pouco antes, lá mesmo no Rio Open, Bernardes viveu uma das situações mais complicadas. Ele e Rafael Nadal já haviam se estranhado em outros torneios e aí veio o inusitado: o espanhol trocou o uniforme entre os sets, mas incrivelmente colocou o calção ao contrário. Pediu para voltar ao vestiário e arrumar, mas foi corretamente impedido pelo árbitro brasileiro. Sem saída, Nadal mudou o calção de lado dentro de quadra mesmo e ficou tão indignado que pediu que a ATP não escalasse mais Bernardes em seus jogos. Por fim, os dois se reencontraram em Wimbledon de 2018 e Nadal levou outra advertência pela demora em se preparar para iniciar o jogo.

Em 2021, durante a quarentena obrigatória na Austrália, Bernardes enfrentou um grande susto ao sofrer um princípio de infarto em seu quarto de hotel. Internado às pressas, perdeu o torneio, mas felizmente não sofreu sequelas.

Foto: Fotojump