A inédita conquista da Copa Davis Júnior para o tênis brasileiro superou a expectativa até mesmo do capitão da equipe, Rodrigo Ferreiro. Presente pela terceira vez na competição, ele acreditava que o time de João Fonseca, Pedro Rodrigues e Gustavo Almeida pudesse ficar entre os primeiros colocados, mas que o time conseguiu ir além ao lidar muito bem as situações adversas ao longo da semana de competição.
"A minha expectativa era chegar entre os cinco melhores. A equipe havia feito um ótimo Sul-Americano e nos deu uma noção do que poderia render aqui na Turquia. É claro que aqui o nível sobe bastante, mas os meninos se saíram muito bem com adversários de características diferentes nesses seis jogos", explicou Ferreiro após o título deste domingo, quando o Brasil venceu os Estados Unidos.
A campanha para o título começou com vitórias sobre Marrocos, Paraguai e França na fase de grupos, seguidos por um duelo contra a Austrália nas quartas e Itália na semi, antes da final diante dos EUA, que garantiu ao Brasil o título da competição entre jogadores de até 16 anos e que foi disputada nas quadras de saibro de Antalya.
O confronto diante do time norte-americano começou com Almeida, 251º no ranking mundial juvenil da ITF, vencendo Meccah Bigun, 111º colocado, por 7/6 (8-6) e 6/0. Almeida teve um ótimo início de partida, salvando quatro break-points com ótimos saques e contando com duas duplas faltas do rival para já conseguir uma quebra logo cedo e abrir 3/0 no placar. O brasileiro vinha levando a vantagem nos ralis mais longos do primeiro set e chegou a abrir 4/1, mas permitiu o empate no oitavo game. Houve ainda uma troca de quebras nos dois últimos games antes do tiebreak, o norte-americano sacou com 6/5 e não conseguiu fechar.
No game-desempate, Almeida vencia por 5-3, tomou a virada para 6-5, mas salvou o set-point -numa devolução errada do rival- venceu os últimos três pontos da parcial. O segundo set foi de amplo domínio para o brasileiro, que conseguiu três novas quebras e só enfrentou dois break-points para vencer a partida e colocar o Brasil em vantagem.
Logo na sequência, coube a João Fonseca, 44º do mundo em sua categoria, definir o confronto. Invicto ao longo da semana, tendo vencido todos os seus cinco jogos de simples na semana, ele superou Kaylan Bigun, 87º do ranking, por 6/4 e 6/1.
Fonseca mostrou mais uma vez seu jogo agressivo e de muita potência nos golpes. O carioca permanecia jogando em cima da linha de base e comandando os pontos com seu forehand. Também mostrou qualidade na execução de drop-shots e subidas à rede e segurança no saque. Ele abriu 5/2 no primeiro set, sofreu uma quebra e reverteu um 15-40 no último game da parcial. Já no segundo set, o carioca conseguiu duas quebras logo de cara e abriu 4/0 no placar. Com pressão constante sobre os games de serviço do norte-americano, definiu o jogo em sets diretos.
Para o paranaense Gustavo Almeida, que abriu a série final vencendo Meecah Bigun (8-6) e 6/0, a virada diante da Itália na semifinal deu a confiança necessária para o título. "Foi contra os italianos que ganhamos a confiança para chegar com força máxima na final. Depois daquele confronto, sabíamos que não teríamos adversidades suficientes para tirar a nossa vitória".
O carioca João Fonseca, 44º do ranking mundial juvenil, venceu todos os seis jogos de simples que disputou, perdendo apenas um set. Ele também teve 100% de aproveitamento nas duplas, jogando ao lado de Gustavo Almeida contra marroquinos e italianos. "O sentimento é inexplicável. Estou muito feliz junto com a equipe, onde cada um exerceu o seu papel da melhor maneira possível nessa conquista. Esse título vai para todos que vem nos acompanhando e dando suporte para estarmos tão longe de casa para representar o país e levar essa taça para casa,” relatou.
Fonseca é acompanhado de perto pelo ex-jogador profissional André Sá, que chegou a ser número 55 do mundo e destacou a experiência de seu mentor. "Andre jogou muitas vezes pela Copa Davis e me contou algumas de suas experiências", disse ao site da ITF. "Ele me dizia que foi essas eram as melhores semanas do ano e que ele se divertia muito torcendo por seus amigos. Eu posso sentir agora o que ele queria dizer".
Para o mineiro Pedro Rodrigues, que recentemente marcou seu primeiro ponto na ATP, a união da equipe fez com que o lugar mais alto no pódio fosse possível. "O grupo realmente fez a diferença na Copa Davis. Todos sempre se ajudavam dentro e fora de quadra para que o time estivesse 100% na hora dos jogos".
João Fonseca é o juvenil brasileiro que mais se destacou na temporada. Ele disputou três Grand Slam em sua categoria em 2022, com destaque para a terceira rodada de Roland Garros. Também atuou em Wimbledon e no US Open. Ao longo da temporada, venceu jogadores mais velhos e que estão à frente dele no ranking, casos do paraguaio Daniel Vallejo, número 1 juvenil, e do argentino Lautaro Midon. Também chegou a duas finais de ITF J1, no Paraguai e nos Estados Unidos, e marcou recentemente seus primeiros pontos no ranking profissional da ATP.
Fonseca é acompanhado de perto pelo ex-jogador profissional André Sá. “Começamos a trabalhar juntos no início do ano passado, e ele é incrível. Tem muita experiência. Por tudo o que ele fez na carreira e todo seu talento e habilidades no tênis, já passou muito conhecimento para mim. É incrível estar com ele, que me ajudou muito”, disse em entrevista ao site da ITF. Em recente fala ao Podcast TenisBrasil, estabeleceu metas ousadas: Sonha ganhar Wimbledon e ser número 1 do mundo.
Gustavo de Almeida é o do interior do Paraná, da cidade de Guarapuava, e está em Curitiba há três anos, onde faz parte do projeto social do Instituto Ícaro: “Comecei no tênis aos 4 anos, em projeto social de Guarapuava. Eu não tinha dinheiro pra viajar para muitos lugares, então tinha que viajar pela região do Paraná. Em 2018, disputei um campeonato em Curitiba e na final joguei com um garoto do Instituto Ícaro e lá me convidaram para fazer parte”, contou o tenista. Ele vive sua melhor temporada e conquistou três títulos no circuito mundial juvenil da ITF, contra jogadores de até 18 anos. O mais importante dos torneios foi em Eindhoven, na Holanda, além dos torneios de Tarija, na Bolívia, e Itajaí, em Santa Catarina.
Já Pedro Rodrigues conquistou quatro torneios do circuito juvenil neste ano, os dois primeiros na Bolívia em março, além de um evento em Lousada, Portugal, no mês de maio, e também em Salvador em outubro. Assim como Fonseca, o mineiro também já tem pontos na ATP. “É uma sensação incrível vencer pelo Brasil. Estou melhorando como jogador e ter mais experiências como essa será bom para mim. O grupo realmente fez a diferença na Copa Davis. Todos sempre se ajudavam dentro e fora de quadra”.