Do Gardênia à Itália: o sonho de Christian e os desafios da pandemia

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Por David Mijalchik  •  01 de Maio de 2020

Em certos momentos da vida, mudanças são necessárias e indispensáveis. Para Christian Oliveira, 20, a maior delas aconteceu neste ano. Ele deixou o Gardênia Azul, comunidade da Zona Oeste do Rio de Janeiro, e partiu sozinho para a Itália em busca de um sonho: virar um tenista top 100. O que ele não esperava é que, entre tantas pedras no caminho, um vírus seria mais uma.

Christian, número 1256 do ranking da ATP, chegou à Villa San Giovanni, pequena cidade perto de Roma, graças ao convite da Accademia del Tennis. Dia 22 de janeiro, um mês antes do primeiro caso confirmado de coronavírus no país. Semana após semana, outras centenas de pessoas foram contaminadas. O vírus se alastrou e obrigou o tenista a trocar as quadras pelo confinamento.

— Quando começaram a rolar as notícias aqui, não sabia que ia chegar a esse ponto. Achava que ia passar rápido, mas não foi bem assim — diz o jovem, que está há dois meses sem sair de casa.



A pandemia fez os planos e o sonho do carioca serem interrompidos momentaneamente. A Itália é o segundo país com mais vítimas fatais da Covid-19. São mais de 27 mil casos confirmados, atrás apenas dos Estados Unidos - mais de 60 mil.

Em meio a tantas mortes, Christian sabe que o esporte não é prioridade no momento. Mas ele não esconde a frustração em não poder treinar ou competir:

— Eu ia fazer a pré-temporada e jogar o pré-quali do Masters 1000 de Roma. Estava muito animado e, do nada, isso aconteceu. Psicologicamente, foi muito desgastante. Estava me matando nos treinos todos os dias e tive que parar tudo. Agora, temos que começar do zero, como se fosse uma nova pré-temporada, e sem saber quando o circuito voltará. Ninguém sabe de nada ainda — conta o atleta — Ficar longe da família, num momento assim, é difícil. Ainda mais estando em outro país — completa Christian, que está confinado com seu treinador.



Apesar da pandemia ainda não ter chegado ao fim, a Itália já recebe sinais de que dias melhores estão por vir. O governo aprovou, a partir da próxima segunda-feira, o fim gradual das medidas de contingenciamento e a volta dos esportes individuais, incluindo o tênis.

Mesmo com o alto número de óbitos, Christian acredita que o país europeu tenha reagido melhor à crise do que o Brasil. Ele pontua dois principais motivos: medidas rígidas e o comportamento da população.

— Os italianos respeitaram muito a quarentena. Ninguém saia de casa, quase ninguém na rua. Enquanto, pelo Instagram, vejo muita gente saindo na rua no Brasil, quebrando a quarentena (...) Aqui o governo foi bem rígido, multando quem estava saindo. Da varanda da minha casa cheguei a ver gente andando na rua e a polícia parando.

Ainda que o início na Itália não tenha sido como o planejado por Christian, o tenista do Gardênia Azul está feliz pela realização de um sonho de infância, que é morar na Europa.

— Para mim, sempre foi muito mais difícil. Sempre tive que treinar muito, correr dobrado. Hoje em dia, estou morando na Europa, que é o sonho de qualquer pessoa. Meu irmão (Patrick Oliveira) é outro exemplo. Veio de comunidade e se formou nos Estados Unidos, graças ao tênis. Hoje ele mora lá. Isso é importante para passar para a molecada que nada é impossível.

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