Flash Back: Sabona Connection!

Início    /    Domingos Venâncio    /    Flash Back: Sabona Connection!
Por Domingos Venâncio  •  13 de Maio de 2021

Em tempos de quarentena, fechamento e reabertura total ou parcial, paradas e retornos,  foi natural o aumento da comunicação e do contato virtual, bem como maior participação (até demais) em grupos de WhatsApp. Grata surpresa a criação de um grupo com meus grandes, queridos e velhos amigos Delta Villaescusa (DV 505 Romanos), como eu, e Eduardo (DBL E) Eche. O grupo é chamado de “Conexão Sabona”, que - para quem não é “garotão” há muito tempo, como nós - trata-se de uma pulseira de cobre - muito cafona -, mas que era peça quase obrigatória na indumentária dos tenistas dos anos 70.


A Sabona deveria ter um poder de curar e evitar dores diversas, mas na verdade a única função comprovada era a de manchar de verde o pulso do usuário (e como era difícil retirar aquela mancha!). No grupo dos Sabonas, trocamos oportunas informações, falamos de música, cinema, vinhos, cervejas, fofocas (claro!), mas principalmente relembramos momentos importantes e prazerosos de nossas vidas no tênis. Nesse clima, torcendo para que, em breve, estejamos de volta e caindo na estrada, puxei um artigo Flash Back da coluna “aos Domingos”. Vamos a ele!


É o Bicho da Goiaba! (ou GPS)


Estou “esquartejado”, com muita dor nas costas e nas pernas. Mas o espírito está em alta, altíssima! Relembrando algumas viagens de um tempo em que jogávamos o circuito em condições bem diferentes das de hoje.


Acabo de chegar em Cabo Frio, após dirigir mais de vinte horas, em dois dias, numa pequena turnê pela Zona da Mata, em Minas Gerais, onde fui fazer uma palestra e uma clinica na cidade de Visconde do Rio Branco, organização do competente e simpático Luciano, que nos contratou também para um “sonzinho”, encerrando o evento. Meu parceiro de viagem e som foi o excelente guitarrista Léo Barreto, super conhecido no meio do rock e blues no “eixo Rio-Minas”. Para aproveitar a viagem, na noite anterior à palestra, fizemos um show de rock em Viçosa (cidade próxima a V. Rio Branco), para um público de pouco menos de 900 universitários. Como diria meu amigo Euzeni José (Bill) de Souza, figuraça, rubro-negro, oriundo de Mamanguape, na Paraíba: “Foi o Bicho da Goiaba”!


Jovens fazendo coro para canções de Bob Dylan, James Taylor, Cat Stevens etc (além de muito rock n' roll), sem nenhuma briga ou confusão. “Bicho da Goiaba”!


“Cair na estrada” foi, por um longo tempo, o “modus vivendi” de toda a minha geração de tênis, e apesar de me encontrar hoje em dia em uma fase meio “Dorival Caymmi”, curtindo muito estar em casa (em Nikiti ou em Cabo Frio), ainda curto muito quando “baixa” o Robert Zimmerman e, “Like a Rolling Stone” (música do século!), pego a estrada de novo.


Vamos falar sobre duas “road trips” inesquecíveis.


Uma das mais incríveis experiências estradeiras que vivi aconteceu entre maio e outubro de 1983, quando, quase sem grana, partimos em um grupo de brasileiros para, de carro, jogarmos todas as etapas do Circuito USTA Satellites, que dava a volta nos Estados Unidos, sem parar. Como havia jogado tênis universitário no Texas (um estado imenso, onde as longas viagens sempre eram feitas de van ou minibus), não me assustei com a idéia. E lá fomos nós, em um Oldsmobile Cutless (que mais parecia a barca Rio-Niterói) iniciar a jornada. Gabriel Mattos, Paschoal Pennetta, Carlos Eduardo Soares, Carlinhos Arthur Soares (not related), Eleutério (Chipanza) Martins, Luis Roberto (Gatinho) Muller, este colunista, e sempre mais um integrante (os argentinos Guillermo Rivas e Eduardo Bengoechea ou o chileno Juan Nunes). Cada um de nós gastava menos de cinco dólares por dia em hospedagem (road motels e Inns), dividindo os quartos  pelo maior número de pessoas que pudéssemos espremer. Comíamos barato e viajávamos sem ligar o ar condicionado do carro, para economizar no combustível. Por incrível que pareça, nessas duras condições, todos tivemos resultados excelentes, em um circuito que contava com nomes como Jayme e Álvaro Fillol (lendas do tênis chileno), John Sadri - semi de Wimbledon, vice no Austrália Open), Derek Tarr (nº 1 da África do Sul), toda a equipe da Davis do México, Van Wynitski (vice em duplas no US Open), e muitos outros, além de vários universitários americanos de férias, como David Pate e Scott Davis, só craques! A premiação? 25.000 doláres divididos a cada cinco semanas. É, precisávamos economizar... Nem todos os membros do “carro do Brasil” ficaram até o final da turnê, mas, para todos nós, foi uma das melhores e mais divertidas experiências que o tênis nos proporcionou, apesar das grandes dificuldades.


Foi o bicho da goiaba!


Olha o Bill aí outra vez!  Que nos remete a outra “road adventure”...


Há vários anos atrás, caio na estrada para Floripa, com meu grande amigo Leandro (ex-craque do Flamengo e da Seleção Brasileira de futebol). Brasil e Canadá se enfrentariam pela Copa Davis. Tremendo passeio! Floripa, Davis, um pouco de trabalho (nothing’s perfect...), pé na estrada! Combinamos de na volta assistirmos ao jogo do Flamengo no bar do Bill, a surreal “Preciosa das Batidas” (que não serve batidas!), localizada no peculiar Pé Pequeno, em Nikiti, e que na verdade pertence ao Antonio, sogro do Bill, único português tricolor que eu conheço (non sense, again!),  uma grande figura, que atende a um público altamente eclético, tradição dos bons bares e restaurantes niteroienses. Claro que não chegamos a tempo... É nova?!


Resumo da ópera: nos perdemos algumas vezes pelo caminho (minha especialidade),

e levamos muitas horas a mais do que o normal para chegarmos ao nosso destino, na ida e na volta. Claro que isso aconteceu também na jornada mineira, com o Leo, e em tantas outras jornadas, em outros tempos, ao lado do grande Thomaz Koch (também um  especialista em erros de percurso e paradas não programadas).


O barato é que, depois de tantas viagens mundo afora, por tantos anos, algumas das lembranças mais legais e divertidas são justamente as desses pequenos desvios de rota, percurso e programação, que transformam uma viagem em “aventura”, como acontecia nos “velhos tempos” de um tênis (ou futebol) mais romântico. Nenhuma nostalgia envolvida, apenas o bom humor e o fato de ainda sabermos extrair o melhor da companhia de bons amigos, além de curtir um lado “Easy Rider”. Não dá pra cantar “Born to be Wild” um dia e me culpar por não ser um GPS humano no outro!


Dias depois do “furo” que demos no Bill (que esperava receber um ídolo rubro negro em dia de jogo do Mengão) recebo uma ligação do Leandro (que mora em Cabo Frio/RJ). “Estou em Niterói, te esperando, aqui no Bill”.


Pouco depois, muito bem servidos, em um momento de muita tranqüilidade no bar vazio, narramos  ao rubro-negro Bill e ao tricolor Antonio a nossa aventura de Floripa, entre tantas outras.


“Foi o bicho da goiaba”!!

Publicidade