Momentos decisivos - Parte I

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Por Nittenis News  •  30 de Maio de 2021

Por Thomaz Koch

 

Incentivado pelo pessoal aqui da Nittenis, comecei a pensar no que poderia trazer de interessante neste artigo para vocês aqui, nesse nosso espaço. Confesso que fiquei bem em dúvida sobre o que escrever, e duas opções que mexem comigo - porque é como desbravar o tênis, pesquisando acontecimentos e "causos" que estariam esquecidos na história - enfim vieram à mente.

 

A primeira seria dividir com vocês meus jogos mais traumáticos e que talvez tivessem mudado o rumo da minha trajetória no tênis caso os resultados tivessem sido diferentes. A segunda, trazer os maiores jogos da história do tênis masculino e feminino, mais algumas curiosidades e jogos decisivos. Como esse último já é quase matéria para um livro inteiro, vou ficar com a primeira opção e abrir falando dos jogos que mais me impactaram no passado.

 

Em primeiro lugar, é importante dizer que dois jogos ficaram entalados, lá no fundo do baú: a final Inter-zonal da extinta Copa Davis contra a Índia, disputada em dezembro de 1966, em que estávamos empatados em dois jogos depois do grande Mandarino ter vencido a quarto partida e então eu decidiria o confronto contra o número um indiano, Ramanathan Krishnan; e o outro nas quartas de final do Aberto dos Estados Unidos de 1963, na grama de Forest Hills, em Nova Iorque, quando eu tinha 18 anos!

 

O jogo com Krishnan começou tranquilo, normal, mas à medida que jogávamos dava para ver que a partida não iria acabar naquele dia porque o jogo anterior, do Manda contra Mukerjea, foi uma maratona, para variar. Não se jogava com luz artificial naquela época, então o jogo foi interrompido quando acabou a luz natural depois do 3º set.

 

Dia seguinte de manhã, com os indianos meio murchos, voltamos à quadra. A Índia tinha a opção de escolher o local e o tipo de piso; escolheram Calcutá, onde faz muito calor, e a grama, onde eram especialistas.

 

Quando retornamos para concluir o jogo, eu vencia por 2 sets a 1 e rapidinho passei 4/1 no quarto set e tive uma vantagem para fazer 5/1. Aí ficou 5/3 e 30/15 no meu saque, ou seja, estávamos a dois pontos do Challenge Round.

 

Quem tinha o serviço levava bastante vantagem numa quadra muito rápida, como é o caso da grama, portanto 30-15 era dar mais dois bons saques, subir à rede, definir com dois winners de voleio e partir pro abraço!

 

Jogava-se o ano inteiro a Davis, começando em abril e terminando em dezembro. O vencedor de todos os confrontos adquiria o direito de desafiar o campeão do ano anterior, que então tinha sido a Austrália, que por sua vez só teria um confronto a realizar, o chamado Challenge Round.

 

Depois de estar a dois pontos de disputar o Challenge Round, lembro que saquei um pouco curto nos dois pontos seguintes e não tive espaço para subir à rede. 

 

Krishnan, que era um especialista em quadras de grama, tendo feito duas semifinais em Wimbledon, não perdoou: devolveu de approach, subindo pra rede e quando me dei conta já tinha perdido o set. O quinto e decisivo set também foi rápido, sem chance para mim.

 

A única coisa que me lembro foi do alívio de ter acabado a partida. A tensão tinha sido terrível e o público, sentindo a possibilidade da virada do indiano no jogo, ficou enlouquecido.

 

O ano tinha sido longo e havíamos, Manda e eu, vencido a Dinamarca, em abril; a  Espanha do Manoel Santana, em Barcelona, depois de estar perdendo por 2 jogos a 0; depois a Polônia, a França (em Roland Garros) e os Estados Unidos, em Porto Alegre.

 

Após ter chegado tão perto da finalíssima e não ter conseguido acabar o jogo, eu fiquei  devastado, passando um mês inteiro de bobeira na Índia e até recusando convite do Harry Hopmann para jogar o circuito da Austrália, que culminaria no Aberto da Austrália, último Grand Slam do ano naqueles tempos.

 

Era totalmente “over” para mim ir à Austrália e jogar, sem ainda saber que seria minha única oportunidade de participar desse Grand Slam. Com isso, fiquei sem nunca ter jogado na Austrália, no meu piso favorito que era a grama, tal qual Wimbledon e o Aberto dos Estados Unidos à época!

 

Na parte II desse artigo, em breve irei contar meu outro jogo que foi difícil de engolir, no Aberto dos EUA, em Forest Hills… até lá!


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