O topo aos 19

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Por Raphael Favilla  •  11 de Setembro de 2022

Quando Carlos Alcaraz venceu o Rio Open, em fevereiro deste ano, a Nittenis publicou a matéria "Nos passos de Nadal". Não era, obviamente, nossa pretensão colocar o menino, com apenas 18 anos e 9 meses à época, na mesma prateleira que Rafael Nadal, um dos maiores nomes da história da modalidade. Mas sim apontar o enorme talento do jovem espanhol, que desabrochava para o grande público, e prometia realizar ainda muitos feitos no tênis. Apontamos lá, portanto, apenas algumas similaridades entre os dois, que iam além da nacionalidade em comum.

“Quero ser número 1 do mundo, quero vencer múltiplos Grand Slams, ganhar medalhas olímpicas”, disse Alcaraz em coletiva após o título no Jockey Club. Nesta segunda-feira (12), Carlitos será o número 1 do mundo, após levantar o troféu de campeão do US Open 2022 em Nova York. A promessa começa, de fato, a tornar-se realidade.

Aos 19 anos e 4 meses, Alcaraz será o mais jovem a liderar o ranking mundial, superando a marca anterior do australiano Lleyton Hewitt, que assumiu o posto aos 20 anos e nove meses em novembro de 2001, então substituindo Gustavo Kuerten.

Além disso, o pupilo de Juan Carlos Ferrero igualou as marcas de Carlos Moyá, Andre Agassi e Pete Sampras, três outros jogadores que saltaram diretamente do quarto lugar para o número 1, os dois primeiros em 1999 e Sampras em 2000, justamente ao ganhar o US Open.

Números e curiosidades

A grande decisão colocou frente à frente dois jogadores que não tinham troféus desse quilate e lutavam também pela liderança do ranking sem jamais ter ocupado o posto. De um lado, o espanhol Carlos Alcaraz. Do outro, o norueguês Casper Ruud. Após 3h19 de confronto, com parciais de 6/4, 2/6, 7/6 (7-1) e 6/3, melhor para o garoto de Múrcia, que com a vitória, também assumirá o topo do ranking da ATP.

Desta forma, é também a primeira vez que o ranking muda de dono após o US Open desde 2003, quando curiosamente o técnico de Alcaraz, Juan Carlos Ferrero, subiu ao posto com o vice.

Carlitos é o mais jovem campeão de um torneio de Grand Slam desde Rafael Nadal em Roland Garros de 2005 (19 anos e dois dias) e o de menor idade a vencer o US Open desde Sampras, em 1990 (19 anos e 28 dias). O recorde pertence a Michael Chang, que venceu Roland Garros em 1989 aos 17 anos e quatro meses, três meses mais jovem do que Boris Becker em Wimbledon de 1985.

O espanhol lidera a temporada também em vitórias e títulos. Ganhou 51 de 60 jogos já disputados (21 de 25 no piso duro) e venceu seis torneios, sendo dois no piso duro junto a Miami. No total da carreira, chega a sete ATPs. Com os US$ 2,6 milhões pelo US Open, supera US$ 9,1 mi na carreira e US$ 7,4 mi desde janeiro.

O jogo

Às 17h17, num Arthur Ashe lotado, Ruud sacou, abrindo a decisão com um ponto de saque. Alcaraz reagiu, teve dois break points, mas o norueguês confirmou o game. O roteiro se repetiu em seguida, no serviço de Alcaraz. Ruud teve 15/40, o espanhol igualou e, forçando o saque, igualou o primeiro set. Com jogadas deslocando Ruud pela quadra toda, Alcaraz voltou a ter break points (três, com 0/40) e, na segunda chance, obteve a quebra: 2/1. O espanhol de 19 anos manteve o game de saque, apesar de duas chances de break de Ruud, e abriu 3/1. Do quinto ao nono games, cada tenista manteve os pontos em seus serviços, sem ameaças. Alcaraz foi para o saque com 5/4. Facilmente fez 40/0 e, numa devolução na rede de Ruud, fechou o set inicial em 6/4.

No segundo set, Ruud sacando, a igualdade seguiu até o 30/30. Até o norueguês encaixar uma bola de direita no contrapé de Alcaraz e, em seguida, confirmar o game. Com um ace, o espanhol também manteve seu saque (1/1). Sem dificuldades, com 40/0, e fechando na sequência, o escandinavo chegou a 2/1. Com 3/2 para Ruud, ele teve oportunidade de quebra (30/40). Alcaraz deixou a bola rente à rede, o norueguês conseguiu alcançar, encaixando um lob - o espanhol chegou à bola mas mandou para fora: 4/2. Pressionado, Alcaraz teve um break point no game seguinte, mas Ruud passou à frente, confirmando o ponto num smash: 5/2. O norueguês teve dois set points no saque de Alcaraz e não desperdiçou: com outro smash, marcou 6/2.

Alcaraz ficou irritado com a perda do domínio, mas começou bem o terceiro set, com saque mais afiado e usando o forehand. Chegou a ter break-point para obtere uma segunda quebra e ir a 3/0. Ruud se salvou e aí ficou muito sólido, com uso muito aplicado do slice rasante. Foi sua vez então de ter uma chance de quebra que o levaria para 5/3 e logo depois, num game de excepcional qualidade, devolveu muito e chegou a ter dois set-points, que Alcaraz evitou com ousadia e voleios perfeitos. A definição foi ao tie-break e, apesar de sair com 1-0, o norueguês perdeu totalmente a intensidade e o espanhol venceu todos os outros sete pontos.

O quarto set recomeçou equilibrado, com os sacadores prevalecendo sem sustos, até que Ruud jogou muito mal o sexto game, cometendo erros graves com o forehand, o que abriu enfim a oportunidade para o adversário. Com 4/2, escapou de 0-30 com quatro serviços muito precisos e com 5/3 precisou controlar a ansiedade para finalizar uma campanha incrível, em que fez três jogos seguidos no quinto set e chegou a salvar dois match-points nas quartas de final contra Jannik Sinner.

Ascenção meteórica

Começamos esta matéria relembrando o título de Alcaraz no Rio Open 2022. A conquista na Cidade Maravilhosa, seu primeiro ATP 500, foi o passaporte para o top 20. Depois do troféu conquistado no saibro do Jockey Club, o garoto fez a transição para a quadra sintética e deu trabalho na semi de Miami para Rafael Nadal para em seguida derrotar três dos 10 melhores do mundo - Stefanos Tsitsipas, Hubert Hurkacz e Casper Ruud - e levantar o troféu em Miami.

Ao vencer mais um 500, agora no saibro de Barcelona, Alcaraz passou a integrar o top 10 do ranking e emendou com o sucesso no Masters de Madri para subir ao sexto lugar. Foi quartas em Roland Garros e vice em Hamburgo e isso o fez aparecer entre os cinco primeiros de forma inédita. Por fim, mais uma final em Umag lhe deu o recorde até então do quarto posto, classificação com a qual iniciou o US Open.

Vale ressaltar que há dois anos, mais precisamente no final de agosto de 2020, Alcaraz era ainda o 217º do mundo. Naquele mês venceu um challenger na Itália, mas continuou a ascensão e entrou para a faixa dos 150 primeiros antes mesmo de a temporada acabar com mais dois títulos challengers, agora no saibro espanhol.

O top 100 chegou em maio do ano passado, antes mesmo de disputar Roland Garros, onde furaria o quali e chegaria na terceira rodada. Veio então seu primeiro troféu de ATP, no saibro de Umag, que o ajudou a ir para o 55º, e um desempenho inesperado sobre a quadra dura, com semi em Winston-Salem e quartas no US Open. Já se tornava 38º e terminaria a temporada como 32º.



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