Pancho Gonzales, a fera

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Por Nittenis News  •  10 de Novembro de 2021

Richard Pancho Gonzales


Era o nome dessa fera que fez um dos jogos mais incríveis de Wimbledon.



 

Era o ano de 1969, apenas a segunda vez que admitiam profissionais para esse evento. Somente em 1968 os profissionais, aqueles tenistas que até então eram obrigados a jogar seus próprios torneios ou às vezes apenas exibições - tendo sido totalmente alijados dos tradicionais torneios amadores que são os que até hoje movem o calendário tenístico, tiveram a oportunidade de participar destes grandes eventos mundiais.

 

Pancho Gonzales já tinha passado do seu melhor tênis e talvez tenha sido o melhor tenista do mundo a jamais vencer Wimbledon, mas de qualquer maneira era quase uma despedida do torneio mais importante do mundo depois de ter sido barrado de todos torneios que os amadores jogavam, por longo 20 anos. Após vencer o Aberto dos EUA por dois anos seguidos, Gonzales assinou contrato profissional com a troupe do Jack Kramer quando tinha 21 anos, em 1949. Como profissional ele dominou o esporte por um longo período vencendo regularmente Hoad, Rosewall, Laver e quem viesse dos amadores para se juntar ao grupo.

Trabert, considerado o melhor tenista amador em 1955, perdeu do Gonzales por 74 partidas a 27. Contra Rosewall foram 50 vitórias e 26 derrotas.

 

É verdade que quando Hoad assinou contrato com os pros os dois estavam muito parelhos e Hoad nessa época pode ser considerado o melhor tenista do grupo. Ele levava a melhor contra Gonzales por 18 a 9 jogos, aí teve um problema na coluna e nunca voltou a ser aquele tenista imbatível como quando estava no auge.

 

Bom, mas a historia é sobre Gonzales, em final de carreira e jogando contra Charlie Pasarell, no auge e número um dos EUA.

O jogo foi programado para o final da tarde, quando só se jogava com luz natural. Entraram na quadra central de Wimbledon às seis e meia.

O primeiro set foi decidido por 24-22 quando Pasarell conseguiu quebrar o saque do Gonzales e foi essa uma das razões que decidiram implementar no ano seguinte um sistema parecido com o  tie braker que hoje conhecemos, que era de 9 pontos, mas isso também já é uma outra historia.



 

Depois desse set maratônico a visibilidade na quadra estava comprometida e com toda razão Pancho queria continuar o jogo no dia seguinte. Captain Gibson que era o arbitro geral do torneio, e que por sinal odiava os sulamericanos, mandou continuar o jogo naquelas condições de pouca visibilidade e Pancho, totalmente irritado, perdeu o segundo set por 6/1 e saiu vaiado pelos 14.000 espectadores na saída para o vestiário.

 

Continua o jogo no dia seguinte, lembrando que Gonzales tinha 41 anos e provavelmente estava todo dolorido, mas não era a toa que era conhecido por sua garra. Só o tamanho 1,89m e a cicatriz gigante no rosto já assustavam quem estava perto ou até no outro lado da quadra, mas a vantagem no marcador e a diferença de idade - 17 anos, colocavam Pasarell como franco favorito para definir a partida já no set seguinte.

Mas aí o jogo foi pegado no terceiro set, assim como no primeiro, e nenhum dos dois conseguia quebrar o saque do adversário até Gonzales vencer por 16-14.

Uma das jogadas que mais cansa no tênis é o smash e era a estratégia que Pasarell empregava para cansar Pancho, principalmente quando atacado no revés e o adversário tentava finalizar o ponto com o voleio.

Parecia que Pancho estava contente por vencer um set, mas o que se viu foi um Gonzales tomando conta do 4º set, fechando a parcial em 6/3 e empatando a partida.

Começa o quinto set e, considerando a diferença de idade entre os protagonistas - Pasarell (25 anos) e Gonzales (41), qual seria a chance do Pancho? Entre os pontos ele se apoiava na raquete demonstrando cansaço, situação mais do que normal, certo?

Mas o desempate também foi duríssimo, com Pasarell tendo a oportunidade de sete match points para fechar o jogo, sendo que em 0-40 por duas vezes, e no final vitória consagradora de Pancho Gonzales por 22-24 1-6 16-14 6-3 e 11-9 em 5 horas e 12 minutos, sendo só 2hs e 54m no segundo dia.

 

Até então tinha sido o jogo mais longo de Wimbledon e essa era somente a primeira rodada. Gonzales ainda passou mais duas rodadas perdendo somente para Arthur Ashe em quatro sets.



 

O campeão de Wimbledon naquele ano de 1969 foi Rod Laver, que venceria pela segunda vez os quatro torneios de Grand Slam no mesmo ano. Ele bateu na final John Newcombe por 6-4 5-7 6-4 e 6-4. Na semifinal havia ganho do Arthur Ashe por 2-6 6-2 9-7 e 6-0.

 

Naquele ano eu perdi do francês Goven por 6-8 6-3 5-7 6-3 e 6-4 na primeira rodada. Dois anos antes, em 1967, ano que cheguei às quartas de final, ganhei do Pasarell nas oitavas, jogando na quadra central por 6-4 4-6 3-6 6-4 e 8-6.

 

Mandarino tinha feito algo absolutamente incrível na segunda rodada ao ganhar do Tom Okker, conhecido como Flying Dutchman, jogando com um torcicolo brabo e sem poder mexer a cabeça. Venceu por 6-1 0-6 6-4 4-6 6-4. Até hoje para mim é difícil de entender. Acreditei porque vi o jogo. Inacreditave! Além do que, Okker era duríssimo, chegou na final do US Open contra Ashe um ou dois anos antes.

 

Voltando ao Pancho Gonzales, eu acrescentaria um fato incrível, ainda no final daquele ano de 1969. Ele ainda venceu o torneio de Las Vegas, batendo Newcombe, Rosewall, Stan Smith e Ashe, este na final.

 

Em 1970, já perto dos 42 anos, derrotou Rod Laver, que havia sido campeão pela segunda vez dos quatro torneios de Grand, fato consumado apenas quatro meses antes.  Esse jogo foi no Madison Square Garden, em Nova York, em partida decidida em cinco sets.

Ainda ganhou do Laver mais uma vez e, em novembro de 1970 já com 42 anos, venceu o Smith salvando, mais uma vez, outros sete match. Com 43 anos e nove meses se tornou o mais velho tenista a vencer um torneio na fase aberta do tênis.

 

Foi casado seis vezes sendo duas com a mesma esposa. Sua última conjuge foi a irmã de Andre Agassi. Faleceu em 1995 com 67 anos.


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