Talento ou trabalho?

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Por Sylvio Bastos  •  12 de Outubro de 2018

Começo esse post com uma interrogação que me persegue há muito tempo. Você professor, treinador ou mesmo pai de jogador, que tipo de tenista gostaria de trabalhar ou mesmo ter por perto? O habilidoso, talentoso, coordenado, que consegue executar tudo o que é pedido com incrível facilidade, que tem a raquete como parte do seu corpo? Ou o seu oposto, aquele que tem dificuldade em coordenar as ações, que não consegue se equilibrar enquanto se movimenta e que mais parece que a raquete não se encaixa no corpo? Se fossemos buscar exemplos no tênis atual, o mais óbvio seria o “talentoso” Federer e o “trabalhador” Nadal, assim como Wawrincka e Ferrer, e nos mais novos também temos os bons exemplos de Kyrgios e Thiem.

A resposta para essa pergunta, na teoria, parece muito óbvia. Mas na prática funciona de maneira bem diferente e, antes que falem alguma coisa, sempre existem as exceções. Em todos esses anos dentro da quadra, já tive todos os tipos de jogadores, e na maioria dos casos o habilidoso acaba tendo muita facilidade em um primeiro momento, enquanto o seu oposto encontra inúmeras dificuldades (isso diminuiu bastante com as bolas coloridas do Play and Stay) na coordenação motora dos movimentos. 

Analisando o habilidoso, ele vai encontrar muita facilidade para superar os desafios iniciais do tênis. Seguramente essa facilidade vai permitir colocar rapidamente o saque na quadra, como também passar bolas altas no fundo, além das curtas, que são consequência direta do “quadradinho” que ele adora jogar. Tudo isso junto vai fazer com que ele ganhe muitos jogos inicialmente, o que poderia ser perfeito, se todos esses fatores não causassem uma falsa ilusão de que os objetivos foram alcançados, quando na verdade a trajetória mal começou. 

Olhando agora o lado do trabalhador, ele vai ter muita dificuldade para se entender com a raquete dentro da quadra (alguns poucos podem até desistir), mas isso vai ser a motivação para superar os desafios. Passado esse momento inicial, ele não só vai conseguir passar por cima das dificuldades com muita determinação, como também vai valorizar cada conquista como se fosse única. Tudo isso vai transforma-lo em um competidor bem mais forte, capaz de levantar a cabeça nos momentos mais complicados do jogo.

Uma maneira bem clara de se constatar essa realidade pode ser através dos rankings juvenis. Nas categorias 10, 12 e 14 anos, o habilidoso vai sempre sobressair. Mas chegando nos 16 e 18 anos, o trabalhador vai aparecer bem mais forte. Se pegarmos os nomes dos melhores de 12 anos, depois de seis anos esses nomes não vão estar entre os melhores de 18 anos. Isso é um fato, já fiz essa pesquisa e talvez o melhor exemplo seja o Guga. 

O maior desafio do professor ou treinador está exatamente em encontrar o equilíbrio desses dois lados, transformando o talentoso em trabalhador, e criando recursos para que o trabalhador evolua nos seus talentos. Simples não é, nunca foi e nem nunca será. Mas se fosse, não teria o mesmo valor!

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