Conheça os primeiros atletas de badminton do Brasil em Olimpíadas

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Por Raphael Favilla  •  16 de Julho de 2016

A Barra será o coração do Jogos do Rio. Com 15 instalações, a região abriga o Parque Olímpico, principal centro de competições – e ponto de encontro – do evento. As partidas de badminton serão realizadas no Pavilhão 4 do Rio Centro, de 11 a 20 de agosto.

Faltando menos de um mês para a abertura oficial dos Jogos, as quadras oficiais começaram a ser montadas na última semana. Da marca Yonex, são iguais as que a Confederação Brasileira de Badminton usa em suas competições nacionais e internacionais. No total, serão 20 quadras durante as Olimpíadas, que estarão divididas em três espaços (treinamento, aquecimento e competição). A estrutura no Rio Centro possui uma altura interna livre de 12 metros e uma área de 25 mil m². Já as arquibancadas temporárias terão capacidade de acomodar 5.800 pessoas.

Quadras de badminton instaladas no Rio Centro (Reprodução/Instagram) Quadras de badminton instaladas no Rio Centro (Reprodução/Instagram)

O badminton é o segundo esporte mais praticado no mundo. Mas está longe de ser popular por aqui. Às vezes é preciso lembrar aspectos do jogo para que se facilite o reconhecimento da modalidade. “Aquele da raquete e da peteca”. E mesmo assim sua identificação não está garantida. Muitos têm uma ideia superficial da atividade, porém desconhecem suas regras e particularidades.

Também pudera. O Brasil jamais teve atletas disputando a modalidade em Olímpiadas. Mas esta escrita está com os dias contados. Chegou a nossa vez de fazer parte do grupo composto por cinquenta países que já tiveram representantes nos Jogos. Nas disputas individuais, Ygor Coelho, de 19 anos, e Lorrayne Vicente, de 20 anos, irão vestir as cores da nação na Rio 2016 pela primeira vez.

Muito popular no continente asiático, o badminton tornou-se oficialmente uma modalidade olímpica em 1992, nos jogos de Barcelona. O país com mais medalhas é a China. São 38 no total, sendo 16 de ouro e 8 de prata. Os chineses são seguidos no quadro de medalhas por Coreia do Sul e Indonésia, ambos com 18 pódios.

No país mais populoso do mundo, o badminton é paixão nacional. Em dezembro do ano passado, na cobertura do evento-teste para a Rio 2016, muitos profissionais da imprensa brasileira se assustaram com o alvoroço causado pelo jogador chinês Lin Dan. Uma legião de jornalistas parou o que estava fazendo para vê-lo jogar. Câmeras o seguiram por toda parte, fãs e até atletas quiseram tirar fotos. Por onde passou, o tatuado provocou confusão. Poderia ser Neymar, mas era o bicampeão olímpico e penta mundial de badminton em solo carioca. A cena poderia parecer surreal, mas o esporte com raquete e peteca, para a China, é como o futebol para nós. E Lin Dan é o maior ídolo da modalidade.

Nossos atletas

No alto do Morro da Chacrinha, na Zona Oeste, existe um dos projetos sociais mais vitoriosos do Brasil. Lá, encontra-se a Associação Miratus de Badminton, referência na modalidade. À frente da instituição, criada em 2000, está Sebastião de Oliveira, um ex-interno da extinta Funabem, que viu no esporte uma forma de ajudar os jovens carentes a ter um futuro melhor.

miratus-chacrinha Associação Miratus de Badminton, no Morro da Chacrinha, Rio de Janeiro (Divulgação/Miratus)

Depois que saiu da casa de detenção para jovens infratores, Sebastião foi trabalhar no Colégio Pedro II, escola pública tradicional do Rio de Janeiro. Lá, foi apresentado ao badminton por um professor. Sebastião juntou amigos e começou a construir uma quadra do esporte "desconhecido" na comunidade da Chacrinha, em Jacarepaguá, onde vive com a família. E fundou a Associação Miratus de Badminton.

Sebastião Dias de Oliveira ensina badminton a crianças (Divulgação/Miratus) Sebastião Dias de Oliveira ensina badminton a crianças (Divulgação/Miratus)

Hoje, são 280 jovens com idade entre 5 e 20 anos inscritos no programa esportivo e na parte pedagógica, que oferece cursos de gastronomia, reforço escolar e música. A estrutura para manter o projeto funcionando conta com 20 funcionários e voluntários. Os atletas do Miratus já foram competir em 25 países. É de lá que os dois primeiros brasileiros classificados para o badminton na história dos Jogos começaram seu caminho olímpico.

Instalações da Associação Miratus (Divulgação/Miratus) Instalações da Associação Miratus (Divulgação/Miratus)

 

ygor-coelho-medalhas Ygor Coelho posa ao lado das medalhas conquistadas em Pan-Americanos (Reprodução/Instagram)

Um deles é Ygor Coelho, filho de Sebastião Oliveira. Com apenas 19 anos, o jovem é o atual número um do ranking brasileiro de badminton, e 64 do mundo. O garoto não precisou da vaga olímpica destinada ao país sede, e se qualificou por sua posição no ranking.

A história do atleta da Chacrinha é maravilhosa. Demonstrando talento desde cedo, Ygor começou a disputar torneios aos seis anos de idade. Em 2005, ao completar nove anos, ganhou três medalhas de ouro e se classificou para o Pan-Americano Júnior. Lá fez bonito: conquistou ouro no sub-11 e, nos anos seguintes, repetiu o feito. Foi campeão do sub-13, do sub-15, do sub-17 e do sub-19.

Para conseguir a tão sonhada vaga nos Jogos, o jovem teve que superar muitas dificuldades. Embora não tenha passado fome como o pai, esteve muito tempo longe do conforto. Antes da Miratus ser tão imponente, Sebastião colocava todo dinheiro no projeto. Ygor dormia em cima de uma porta até os 15 anos. Sem apoio do Comitê Olímpico Brasileiro, o pai de Ygor teve de pegar empréstimos no banco e recorrer ao programa de TV de Luciano Huck para poder levar o filho para disputar torneios internacionais, conquistar títulos e acumular pontos no ranking.

A história de Lohaynny Vicente, atualmente a 67ª do ranking mundial, não fica atrás. Ainda criança, a atleta viu o pai morrer durante uma troca de tiros com a polícia. Traficante na comunidade do Chapadão, no Rio de Janeiro, Sandro de Oliveira Vicente, o Bodão, estava sempre fugindo. Tinha no seu encalço a Justiça e os inimigos do morro. Isso teve impacto direto na infância de Lohaynny e de sua irmã mais velha Luana, também atleta de badminton, com quem viria fazer dupla no Pan-Americano de Toronto e conquistaria uma medalha de prata.

Lohaynny Vicente ao lado de Ygor Coelho (Divulgação/CBBD) Lohaynny Vicente ao lado de Ygor Coelho (Divulgação/CBBD)

Depois da morte do pai, a mãe levou as filhas para a favela da Chacrinha. Na nova comunidade, quis o destino que Luana e Lohaynny morassem ao lado de uma quadra amadora de badminton... a quadra do Miratus!

A trajetória de Lohaynny se confunde com a própria evolução da modalidade no Brasil. Hoje, a atleta treina em um centro de treinamento em Campinas (SP), conta com uma comissão multidisciplinar – com médico, psicólogo e coordenador esportivo – e verba do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), via Lei Agnelo Piva. Alguns atletas, como Lohaynny, também recebem uma bolsa do Comitê Olímpico Internacional, no valor de R$ 25 mil por ano.

O badminton brasileiro voltou para casa depois dos Jogos Pan-Americanos de Toronto com três medalhas na bagagem e uma participação histórica: foram duas de prata e uma de bronze. As conquistas evidenciaram a evolução do esporte, provando que os atletas brasileiros vêm ganhando espaço no cenário continental.

No Canadá, as irmãs Lohaynny e Luana Vicente garantiram o primeiro pódio do país no feminino, ao ficar com a prata, e a dupla Daniel Paiola e Hugo Arthuso fechou a participação com o segundo lugar no masculino.

Antes da competição em Toronto, o Brasil havia conquistado duas medalhas de bronze desde que o badminton entrou para o programa dos Jogos Pan-Americanos, em 1995. A primeira foi com a dupla formada por Guilherme Prado e Guilherme Kumasaka, no Pan do Rio, em 2007. Quatro anos depois, em Guadalajara, Daniel Paiola garantiu outro bronze na categoria individual masculina.

Atletas se preparam para os Jogos no Centro de Treinamentos da Ilha da Madeira, Portugal Atletas se preparam para os Jogos no Centro de Treinamentos da Ilha da Madeira, Portugal (Reprodução/Instagram)

A preparação de Ygor e Lohaynny para os Jogos teve início no Centro de Treinamento em Campinas, no meio do primeiro semestre. Depois,  Ygor seguiu para a Dinamarca enquanto Lohaynny e o técnico, Marco Vasconcelos, foram para Portugal. Em junho, Ygor se juntou aos dois em Portugal. Ficaram na terrinha até o dia 23 de julho, quando partiram para os Estados Unidos e Canadá para disputar duas competições. De volta ao Brasil, os atletas estão na fase final de treinos em Campinas até o início dos Jogos.

 

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