[EDITORIAL] Do esporte para a vida. E vice-versa

Início    /    Editorial    /    [EDITORIAL] Do esporte para a vida. E vice-versa
Por Nittenis News  •  11 de Janeiro de 2023

Editorial



Assim como no esporte, na vida também precisamos aprender uma importante lição: saber perder. Por inúmeros e alguns óbvios motivos, temos que desenvolver essa capacidade para lidar com as derrotas, que todos sofreremos - algumas vezes - ao longo de nossas vidas nos seus mais variados aspectos: pessoal, profissional, esportivo.


Não saber perder, antes de tudo, é uma demonstração de prepotência, em uma tentativa de diminuir o mérito de quem venceu. Sim, porque, afinal de contas, para alguém vencer, alguém tem de perder. Assim é majoritariamente no esporte - com raras exceções, como por exemplo o frescobol. Mas precisa, necessariamente, ser desse jeito na vida?


Infelizmente, essa mesma lógica permeia o mundo dos negócios, especialmente em grandes corporações, onde a disputa por poucas posições de destaque nas estruturas hierárquicas das empresas gera uma concorrência interminável (e geralmente nada saudável), interna e externamente. Ainda que haja muitos talentos que se destaquem, dificilmente haverá espaço para todos serem devidamente reconhecidos por meio de promoções de cargos mais relevantes e remunerações mais robustas.


Apesar de existir um esforço de algumas instituições e pessoas (professores, especialistas e ativistas) para o desenvolvimento de uma cultura mais colaborativa e menos competitiva, em que todas as partes envolvidas, trabalhando juntas e por um mesmo objetivo, fossem igualmente recompensadas ao final da jornada, a tônica da competição como mola propulsora de sociedades mais produtivas e evoluídas segue sendo a adotada, principalmente no mercado de trabalho ocidental.


Paralela e transversalmente a tudo isso (sem falar nas relações familiares e sociais), temos a nossa forma de perceber e atuar enquanto coletivo. A política é parte integrante e ao mesmo integradora de todos os demais aspectos relacionais do ser humano, é onde os indivíduos expressam suas convicções, debatem ideais, demonstram seus valores uns aos outros no intuito de coordenar uma forma de viver organizada e justa para todos - ou ao menos à maioria - em sociedade.


Tristemente, vivemos uma escalada de intolerância e violência por meio da discordância política no Brasil - mas não apenas aqui. O que deveria ser motivo de debate civilizado e busca por melhores soluções, principalmente para os que mais necessitam do suporte do Estado, tem se transformado em guerras ideológicas e uma polarização que não vão gerar bons frutos para o país, tampouco para o povo. É uma disputa sem vencedores. Talvez a única dentre todas apenas com perdedores. Derrotados pelo medo, extremismo, fanatismo, autoritarismo, divisão.


Mas… e onde entra o esporte nisso tudo? E, mais especificamente, o nosso amado tênis? Enquanto um esporte essencialmente individual, é difícil imaginar que a alta competitividade por um lugar ao sol não seja o principal drive dessa modalidade, em detrimento da colaboração (com ressalva, claro, aos duplistas). No entanto, facilmente podemos citar duas situações recentes que aconteceram e chamam a atenção para esse aspecto da competição no mundo do tênis.


O primeiro, e certamente um dos mais impactantes de 2022, foi a despedida do genial Roger Federer. Todos devem ter visto e lembrar da cena dele e do seu maior rival, o não menos genial Rafael Nadal, de mãos dadas e chorando ainda em quadra logo após o último jogo do suíço, em Londres. Eles, que duelaram por quase duas décadas e se alternaram como os melhores do mundo ao longo de todos esses anos, deram uma das maiores demonstrações de amizade, parceria e, acima de tudo, respeito: a admiração mútua entre dois adversários.


Eles não precisaram subjugar um ao outro o tempo todo para se transformarem em dois dos maiores tenistas da história. Suas posturas, seus comportamentos dentro e fora de quadra forjaram os ídolos que se tornaram, juntos, em uma mesma era, em uma modalidade na qual conceitualmente apenas um brilha, pois somente um pode estar no topo do ranking. Mas eles foram além, e basearam sua relação no respeito e admiração que nutriam um pelo outro. Somente gênios fazem coisas assim, que deveriam ser simples e se tornam geniais.


A outra situação que chamou a atenção foi o novo e disputado recentemente United Cup. Realizado na Austrália entre o final do ano passado e início desse ano, o torneio misto entre nações foi sucesso de público e parece ter arrebatado os corações dos fãs de tênis. O formato do torneio claramente beneficia equipes fortes, não apenas times que tenham um ou dois grandes jogadores, uma vez que quatro atletas diferentes, sendo necessariamente dois homens e duas mulheres, devem disputar os quatro jogos de simples, além da partida de duplas mista.


O formato faz com que o torneio seja muito diferente do que vemos na Davis masculina e na Fed Cup, feminina, ambos com regras mais flexíveis quanto à escalação e número de jogos por atleta (que podem fazer até mesmo três partidas em uma mesmo duelo), e separados por gêneros nas categorias. A integração entre homens e mulheres e sua atuação em conjunto por um mesmo time traz o espírito de muitas das lutas que têm sido travadas nas últimas décadas mundo afora: igualdade de gêneros, empoderamento de minorias, colaboração e espírito de time acima de qualquer individualidade. Uma quebra de paradigma sem precedentes na história recente desse fascinante esporte chamado tênis.


Por fim, gostaria de deixar aqui registrado, enquanto editor da Nittenis, que buscamos, acima de tudo, trazer as mais relevantes informações do mundo dos esportes de raquete. Baseados em fatos, em pesquisas em fontes seguras, em jornalismo sério e profissional. Nosso intuito é primordialmente informar, e eventualmente expressar nosso posicionamento, como faço aqui e agora por meio desse artigo. Nossos valores nos guiam, há quase 25 anos, no sentido de propiciar condições, por meio da produção de conteúdo relevante e com apuração adequada, aos nossos leitores e seguidores de tirar suas próprias conclusões a respeito de qualquer fato que venhamos a divulgar nos nossos canais.


Desejo a todas e todos um feliz 2023 e que possamos, juntos, seguir em frente e em constante evolução, tanto no esporte quanto na vida de uma maneira geral.


Um abraço,

Diego Werneck.


Publicidade