Dois quiques: Terceiro do mundo é banido do paradesporto. Comoção ou solução?

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Por Nittenis News  •  07 de Abril de 2020

O esporte em cadeira de rodas idealizado pelo médico Sir Ludwig Gutmann, na década de 40, no Centro de Reabilitação de Stoke Mandeville na Inglaterra foi concebido para ajudar os cadeirantes no processo de reabilitação. Um visionário para a maioria e um utopista se nos reportarmos às cadeiras da época.

Mais de 70 anos nos separam daqueles heroicos dias. Essas lembranças apoderam-se de minha memória ao ler que o tenista inglês AlfieHewett (foto) está impedido de competir em sua cadeira de rodas. O britânico, que na juventude dos seus 18 anos teve seus dias de glórias na Rio 2016 ao conquistar duas medalhas paralímpicas, prata em simples e ouro nas duplas, está banido do paradesporto a partir do recentíssimo Austrália Open. Lá venceu o campeonato em duplas. Alfie ocupa, atualmente, a terceira posição do ranking mundial.

Portador da síndrome de Legg-Calvé-Perthes, que afeta sua bacia e fêmur, não teria uma deficiência física suficiente para ser enquadrado nas novas regras impostas pela InternationalTennis Federation(ITF). O site da identidade salienta que jogadores são elegíveis para competir na divisão de cadeiras de rodas "...se tiverem uma deficiência física permanente que resulte em perda substancial de função em uma ou ambas os membros inferiores...". Segundo a Federação, as novas regras “melhorarão a integridade da classificação".

Conheci muitas pessoas com deficiência física que não utilizavam cadeira de rodas para a sua vida diária e sempre as estimulei a sentar para jogar tênis. A condição física as impedia de praticá-lo de pé. Sempre entendi, quando começaram a surgir muitos praticantes, que era essencial e imperativo dividir os tenistas de acordo com o nível de lesão. Nem que fosse minimamente. Duas classes, para começar. Muitos argumentam que não teremos massa crítica. Até concordo, mas em torneios internacionais, me parece bem viável. Este é um ponto, que continuo advogando. O outro é o atleta com lesão irrelevante.

Nos anos em que eu competia, surgiu no circuito um tenista americano, Steve Welch. Um fenômeno. Portador da mesma síndrome de Legg-Calvé-Perthes, Steve nutria-se de uma velocidade abissal para bater seus adversários. Assim chegou ao topo do ranking mundial. Foi ele o criador do golpe, hoje popular, backhandinvertido (foto). Talvez agora tivesse o mesmo destino de Hewett. Justo? O inglês alega em sua defesa – “não tem opção para mim, porque não tenho condições de competir em pé”, disse em recente entrevista. Em boa hora os órgãos responsáveis pela paradesporto no mundo resolveram dar um basta aos “deficientes de ocasião”. O multimedalhista paralímpico brasileiro André Brasil foi banido pelo mesmo motivo. Carreira internacional, bolsa-atleta, premiação em dinheiro, o glamour, a vida sob holofotes são atrações difíceis de resistir. São atletas que estavam no limbo, ficaram anos nessa linha de indefinição e agora deixam o purgatório. Estão aptos a praticar o esporte convencional, com certeza, não com grande sucesso.

As cartas estão na mesa e as apostas abertas. Onde colocar as fichas?  Eu boto na inelegibilidade. Acho que Dr. Gutmann também poria.  No meu ponto de vista, melhor para o esporte em cadeira de rodas. Não deixe de opinar, cartas para a redação.


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