Nittenis 20 anos (aos domingos – flash back ) TheTripTrap II : La Fontaigne e a Viagem

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Por Domingos Venâncio  •  24 de Março de 2019

Desde o primeiro ano de realização do Rio Open, eu e minha (incrível!) equipe de professores estivemos envolvidos nas mais diversas ações promocionais ligadas ao torneio envolvendo crianças. Dentre essas ações, antes e durante o torneio a mais importante delas: o Kids Day, envolvendo em torno de 200 crianças simultaneamente. Grande sucesso! Eufóricas, felizes, as crianças (e os técnicos, pais e todos aqueles envolvidos) curtindo demais! Pressão zero e muita diversão! Não pude deixar de me perguntar: quando e onde essa sensação começa a mudar, e por quê? Lembrei de vários jovens tenistas que “abandonaram o barco” precocemente, tenistas já vitoriosos, ou tantos outros de bom nível técnico e bastante competitivos que resolvem seguir outros caminhos. Penso naqueles que mal começaram o caminho e já carregam um piano nos ombros, deixam de curtir o jogo muito cedo! Vira obrigação! Resolvi buscar um artigo ( The trip trap...La Fontaigne e a viagem) que escrevi a tempos para esta coluna. Considero atual e pertinente, e serve como um alerta para nossos jovens tenistas em formação, bem como seus pais e treinadores. Então vamos a ele... the journey continues!

 

O tênis é um grande network. Amigos, negócios, saúde física e mental,viagens de intercâmbio mundo afora, estudos pagos em vários países, idiomas, etc. Além de várias atividades profissionais correlacionadas (aulas, promoções de eventos, fisioterapia, nutrição, fisiologia, psicologia, etc ). E, para pouquííííssimos, uma carreira como tenista profissional. Preocupa-me, porém, o número crescente de jovens que, após alguns anos competindo nos torneios infanto-juvenis, abandonam o tênisparasempre, frustrados, decepcionados e rancorosos, sem usufruir de seus inúmeros benefícios posteriores. Uma das principais razões (se não a principal) para tal é o alto grau de expectativa (principalmente por parte dos pais e técnicos), desproporcional, e, por vezes, incompatível com a realidade daquele jovem tenista. Vamos mais a fundo com este alerta. O roteiro é sempre muito parecido…

 

Um velho ditado americano diz “aim for the stars” (tente atingir as estrelas), e, como complemento, “se não conseguir, tudo bem; alguém tem que ficar e tomar conta da Terra”. De tempos em tempos o assunto volta, em algum torneio juvenil, algum clube ou academia. “Sabe o fulaninho (ou fulaninha), filho do fulano? Pois é, resolveu que vai ser profissional de tênis”; ou “ele (ou ela) agora é profissional de tênis”.Sem pesquisa alguma sobre os resultados, o grau de dificuldade ou as chances percentuais e a “real” sobre o assunto, imediatamente, como em um milagre, todos passam a ver, cheios de orgulho, aquele (ou aquela) jovem tenista como um “futuro campeão”. Passam a avaliar, desproporcionalmente, seus “potentes” golpes (mesmo que caiam lá em Olaria…) com mais atenção do que seus resultados ou progresso.

 

Perder na segunda rodada passa a ser “perdernas 32as de final”. W.O. passa a contar como merecida vitória, em informações do tipo “ganhei um jogo e perdi nas 16as de final”, ou quando dito pelo técnico ou pai: “alcançamos as oitavas!”(com uma vitória por w.o. e uma derrota no segundo jogo). Sempre a derrota virá acompanhada de um ranking: “perdemos para o 25o do ranking do Paraná (ou de Sergipe, ou do Maranhão)!” Este jovem passará a ter a responsabilidade de ganhar jogos que nunca ganhou, mostrar resultados acima de seu próprio nível, e, consequentemente , será muito cobrado por aqueles que criaram e, agora, alimentam (mesmo que inadvertidamente) uma farsa, uma “viagem”! The Trip!! Que pode ser criada pelo interesse (ou necessidade ) de técnicos, em apresentar um trabalho com resultados imediatos. Ou dos pais, que (claro, com a melhor das intenções) curtem e acreditam de verdade que serão os novos Mr. and Mrs. Federer, Williams, Djokovic, etc, e já se imaginam nos “boxes”dos torneios internacionais, brevemente. Caíram na “armadilha”!! The Trap!! Aumentam-se os investimentos em viagens (pseudo e literais) para torneios cada vez mais distantes, nos quais, sempre, por muito pouco, não acontece a vitória sobre um Pro ou campeão juvenil. Resultados fictícios, alto grau de stress e irritabilidade... Voilá! Está criado um pequeno “mitômano”! Não irá para a Universidade nos States, porque não estudou enquanto se preparava para o “ululante e tonitruante” sucesso. A versão? “Tênis universitário é para os que não conseguem chegar a Pro!” E, enquanto o sucesso não chega, entre uma e outra quebra de raquetes (sempre em grande número!) nosso jovem herói aprenderá todas as gírias e “hand shakes” dos diversos estados nacionais, graças às constantes viagens.Fará novos amigos, sempre bem “ranqueados”, e, na volta para casa, um técnico já não tão empolgado começará a justificar a ausência de resultados culpando os pais, a federação (seja ela qual for), a confederação, e,finalmente, no feminino, a falta de apoio e de torneios, e no masculino (além das razões anteriores), o próprio jogador, que não se dedica o suficiente, ou.... a salvação! Para orgulho de todos , ele agora só quer saber de namorar! Who'stoblame? Mas, espere! Tenistas profissionais não namoram? Claro que sim! Há tempo e espaço para tudo, desde que haja sincronia entre realismo e cronologia.

Ou seja: em algum lugar, em algum momento, o carro foi colocado à frente dos bois (e acontece rápido), a “viagem” foi mais atraente e glamourosa do que o trabalho duro e o pé no chão, dando-se um passo de cada vez. É... La Fontaigne explica: “ssii-ssii-ssii”!


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