No pain, no gain?

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Por Diego Werneck  •  15 de Janeiro de 2018

Por Diego Werneck

Apesar de poder contar com a provável presença de nomes de peso como o atual número um do ranking, Rafael Nadal, e o ex-líder Novak Djokovic, a edição 2018 do Australian Open registra uma quantidade relevante de expressivos tenistas ausentes da disputa do primeiro Grand Slam da temporada. Os motivos são variados, de problemas pessoais a doping, porém majoritariamente tem uma mesma causa: contusões e problemas físicos, em muitos dos casos originados alguns meses atrás, ainda em meados de 2017.

Dentre os destaques estão o também ex-número um do mundo Andy Murray, que acaba de passar por uma cirurgia no quadril após se submeter a um tratamento mais conservador que o tirou de ação nos últimos seis meses e só deve voltar às quadras no meio do ano; e o japonês Kei Nishikori, outra figurinha carimbada entre os top 10 da ATP nos últimos anos e que ainda se recupera de uma lesão no punho direito que o fez parar de jogar desde agosto.

O brasileiro Thomaz Bellucci também vinha de contusão em 2017, mas o motivo que o deixará fora da disputa em Melbourne é outro: a acusação de doping a que respondia desde 2017 e pela qual foi suspenso pela ATP por cinco meses nos primeiros dias de 2018. Dessa forma, entre os homens, fora os incansáveis Federer e Del Potro, somente os mais jovens como Zverev, Thiem, Kyrgios e companhia entram com força total em Melbourne esse ano.

Do lado feminino também há ausências importantes. A ex-número um do mundo, Serena Williams, teve seu primeiro filho em setembro e ainda recupera a melhor forma física para retornar ao circuito. Já a bielorrussa Victoria Azarenka vive um drama pessoal em função de uma disputa judicial nos Estados Unidos pela guarda de seu filho, e como não pode sair com ele da California, não disputa torneios desde a última edição de Wimbledon, em julho passado. A espanhola Garbiñe Muguruza se machucou na última semana durante o WTA de Brisbane, na Nova Zelândia, se tornando uma dúvida de última hora para o aberto australiano.

Somados aos casos de Nadal (joelho direito) e Djokovic (cotovelo direito), que lutam contra o tempo para se recuperar e disputar o Slam australiano em condições de igualdade com os demais favoritos ao título, são ausências e dúvidas importantes que inevitavelmente levantam uma questão recorrente no mundo dos esportes de alto rendimento como o tênis: seriam os atletas submetidos a um esforço físico maior do que a capacidade humana pode suportar?

É claro que problemas físicos e contusões fazem parte do cotidiano de todo e qualquer atleta, seja qual for a modalidade, idade ou outras condições que interfiram. Porém, há de se convir que, em especial quando se fala de um esporte essencialmente individual, com partidas que podem durar três, quatro, às vezes cinco horas com altíssima intensidade, e que se multiplicam por mais de 40 semanas em um ano, dentro de um calendário extenuante de inúmeras e longas viagens, o peso do esforço físico é bem mais acentuado e pode ser o fiel da balança em um bom ou mau desempenho esportivo.

A discussão não é nova e está longe de existir um consenso, mas é comum ouvirmos reclamações dos tenistas, inclusive os top, sobre as condições com as quais têm que lidar rotineiramente. Nadal mesmo voltou a falar sobre o tema na coletiva de imprensa após sua vitória na primeira rodada em Melbourne na última segunda-feira, dando ênfase a série de contusões nos principais tenistas do circuito. "Desejo a Stan e Andy uma boa recuperação e tudo de bom para o futuro. Outra coisa é que há muitas lesões no circuito, eu não sou o único a dizer, mas alguém tem de investigar o que está acontecendo", cobrou o espanhol de Mallorca, referindo-se a Murray e ao suiço Stanislas Wawrinka, número quatro do mundo e também fora de combate.

Até porque, se colocarmos na conta o fundamental período de treinamentos, tenistas profissionais se submetem a algumas dezenas de horas por semana dentro das quadras, faça chuva ou sol, para tentarem chegar ou se manter entre os melhores do mundo - onde apenas os 50 primeiros dos rankings conseguem efetivamente viver do tênis enquanto profissão.

Não estamos aqui fazendo campanha para, necessariamente, diminuir a quantidade de torneios nos circuitos profissionais, ou por mudanças profundas nas regras que regem o tênis há muito tempo. Porém, tradições à parte, seria importante ao menos que os responsáveis pelos rumos do esporte olhassem com mais atenção para o fato de que contusões e problemas físicos vêm aumentando e se agravando ano após ano e começar a pensar em soluções viáveis, no curto e longo prazos, buscando oferecer condições melhores à atuação dos atletas em alta performance.

Não temos certeza se um “no ad” (já usado nas duplas), por exemplo, resolveria ou atenuaria as longas horas de algumas partidas, em especial as de melhor de cinco sets jogadas no Slams desde suas primeiras rodadas. Mas, de novo, o mais importante é que dirigentes e especialistas olhem, entendam e pensem sobre as causas e possíveis soluções para essa relevante questão.

Afinal, além dos jogadores, o próprio tênis e seu apaixonado público perdem quando não temos um Murray, um Nadal ou um Djokovic em quadra. E se a situação pode ser minimizada, por que não fazer algo a respeito?

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