Paralimpíadas: mulheres brilham com pódios

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Por Raphael Favilla  •  30 de Agosto de 2021

Na primeira final feminina da história do tênis de mesa brasileiro, Bruna Alexandre conquistou a medalha de prata nesta segunda-feira, sexto dia de competições das Paralimpíadas de Tóquio. Pela classe T10 (para atletas andantes), ela foi superada na final por Qian Yang, chinesa naturalizada australiana e terceira do mundo no ranking. Vitória da adversária por 3 sets a 1, parciais 13/11, 6/11, 11/7 e 11/9.


“Um pouco triste de ter perdido a final, mas estou satisfeita com a grande evolução técnica e física. Tentei o máximo possível fazer uma grande variação, mas ela mudava o ritmo da bola e me deslocou bastante para um lado e para o outro. Ela foi mais esperta nos momentos mais decisivos”, analisou a medalhista de Criciúma, que iniciou na modalidade aos 12 anos, por influência de seu irmão, e competiu até 2009 em torneios para atletas sem deficiência. A jovem amputou o braço aos seis meses de vida, uma injeção mal aplicada provocou uma trombose.


“É um jogo bem tático. E acredito que a variação da australiana chinesa foi maior e ela aproveitou melhor as oportunidades. Por ser mais experiente que a Bruna, tirou vantagem disso. Mas nem por isso ela deixou de ter chances. Chegou a estar perdendo por 7 a 2, mas foi buscar o 8 a 8. Ela está de parabéns”, disse o técnico Celso Toshimi.


A trajetória de Bruna no Japão foi emocionante. Na semifinal, ela ganhou de virada da Shiau Wen, de Taiwan, por 3 a 1, conseguindo se classificar para a disputa do ouro. Nas fases anteriores, ela venceu seus dois confrontos, o primeiro contra a australiana Melissa Tapper por 3 sets a 0, e o segundo jogo contra Yu Tzu Lin, de Taiwan, pelo mesmo placar.


Com a prata, Bruna tem agora três medalhas paralímpicas no currículo. Ela já havia conquistado dois bronzes na Rio 2016. Na ocasião, inclusive, a atleta já tinha feito história ao se tornar a primeira mulher brasileira a subir no pódio da modalidade.


Repleto de reviravoltas, o ciclo paralímpico de cinco anos de Bruna até a medalha em Tóquio não foi fácil. Após os Jogos do Rio em 2016, a criciumense foi campeã mundial por equipes no ano seguinte. Muito acima do peso, chegou como favorita ao Mundial Individual em 2018, e saiu com resultado frustrante, sem medalhas. Ficou fora do Parapan de 2019, entrou num severo programa de treinamento e alimentação e voltou aos seus melhores dias. Com a forma física da juventude e mais experiente, fez uma Paralimpíada exuberante.


“No Mundial Paralímpico da Eslovênia, eu perdi nas quartas de final, com 20 quilos a mais. Larguei um pouco, na verdade. Depois que perdi, pensei em me esforçar e fazer todo o possível. Procurei a nutricionista Érica Oliveira, que hoje trabalha com a Seleção de boxe. E passei a treinar no Centro Paralímpico, com o técnico Paulo Molitor. Ele confiou em mim, mudou meu estilo de jogo, mas eu precisava de um físico melhor”, lembrou a atleta.


— Eu vou deixar essa medalha na porta todos os dias para lembrar que valeu todo esforço - disse emocionada Bruna Alexandre após receber a medalha.


Bruna ainda terá a oportunidade de conquistar mais uma medalha nesta Paralimpíada. O torneio de equipes, que começa na noite desta segunda-feira, tem a participação dela na classe 9-10, ao lado de Danielle Rauen e Jennyfer Parinos. As brasileiras estreiam nas quartas de final, na terça-feira, às 22h (de Brasília), contra a Turquia. Se vencerem, terão, no mínimo, o bronze garantido.


O jogo


Bruna começou a final muito sólida, abrindo 8 a 3 logo de cara. Bastante agressiva, ela conseguiu impor seu jogo enquanto o saque da australiana era curto, no centro da mesa. Quando a Qian mudou a estratégia, no entanto, movimentando pelas laterais, a brasileira encontrou mais dificuldade.


Após ótimas trocas e alto nível de tênis de mesa, a australiana buscou o jogo, salvando 3 set points quando Bruna Alexandre vencia por 10 a 7. A brasileira também salvou o primeiro set point, mas não evitou a derrota por 13 a 11 na parcial.


Apesar da virada na reta final do primeiro set, Bruna começou muito bem o segundo, abrindo novamente vantagem expressiva, com cinco pontos a frente no placar. A brasileira chegou a errar o primeiro set point, mas com boa margem de erro para confirmar a vitória, fechou em 11 a 6 a parcial. Set com destaque para a perfomance física e mental da catarinense.


Bruna começou novamente na frente o terceiro set, chegou a abrir 4 a 1. Qiang dessa vez não demorou para buscar o empate, encostando em 4 a 4. A partir daí, o jogo ficou bastante equilibrado, 4 a 4, 5 a 5, 6 a 6. Sem mudar a postura, a catarinense seguiu forçando as trocas. Mas, sem a mesma precisão. E assim viu a australiana virar o jogo e confirmar a vitória em 11 a 7.


No quarto set, a brasileira mudou um pouco a estratégia, explorando mais o erro da adversária. Quando a australiana abriu 7 a 3, Bruna Alexandre chegou a esboçar uma reação, empatando a parcial. Qian então pediu tempo diante da pressão brasileira. Agressiva no retorno, ela conseguiu encaixar as melhores bolas do jogo. A brasileira na defensiva e pressionada pelo placar, não conseguiu controlar a adversária, que fechou o set e ficou com o ouro.


Mais uma medalha


No fim de semana, outra mesa-tenista brasileira já havia subido ao pódio. A paulista Cátia Oliveira conquistou sua primeira medalha em Jogos Paralímpicos, ficando com o bronze na classe 1-2, ao ser superada pela sul-coreana Seo Su Yeon, atual campeã mundial, por 3 sets a 1 (11/7, 8/11, 5/11 e 9/11).


A menina da cidade de Cerqueira César, que sonhava defender a Seleção Brasileira numa Copa do Mundo de Futebol, mas sofreu um acidente automobilístico ainda adolescente, grava seu nome definitivamente na história do tênis de mesa do Brasil. Além da medalha paralímpica, ela também coleciona uma prata do Mundial Individual de 2018.

Cátia Oliveira começou mandando no jogo da semifinal. Com saque poderoso e dificultando demais a recepção da sul-coreana, abriu confortável vantagem na primeira parcial. A adversária ainda esboçou uma reação no final, mas sem sucesso.

No segundo set, novamente Cátia iniciou melhor. Mas, aos poucos, Seo Su Yeon neutralizou as principais jogadas da brasileira. Com isso, conseguiu a virada e fechou a segunda parcial, em 11 a 8. Na parcial seguinte, a experiente sul-coreana passou a impor seu jogo completamente, dificultando demais a recepção da brasileira, que não conseguiu reação.

Precisando vencer os dois sets seguintes para seguir na briga pela medalha de ouro, Cátia Oliveira passou a jogar com todas as armas e abusou do saque, enquanto a asiática levava vantagem nos ralis mais longos. O técnico Paulo Molitor pediu tempo quando Seo Su Yeon tinha vantagem de 6 a 4, ajustando os ponteiros.

A estratégia deu certo. Cátia reagiu, virou o placar e a técnica sul-coreana também pediu tempo.  O jogo se tornou tenso, onde pequenos erros poderiam representar a diferença entre a final paralímpica e a eliminação. Seo Su Yeon foi melhor exatamente neste momento do confronto, fechando a partida: 3 a 1.

“Estou muito feliz. Lógico que eu queria ter ido para a final e tentado brigar pelo ouro. Tive um desempenho muito bom e perdi em detalhes que fizeram total diferença. Mas em nenhum momento parei de brigar, em momento nenhum abaixei a cabeça. No Rio, não passei da fase de grupos, hoje saio com uma medalha de bronze. E ainda tem mais, já que teremos a disputa por equipes”, disse a medalhista paralímpica em Tóquio.

"Eu tentei levar este ouro para o Brasil, mas estou muito feliz com o bronze. Em nenhum momento, fiquei com medo de perder. Vim para Tóquio e representei o meu país. Esta medalha é de todos”, disse Cátia em declaração publicada pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).


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