Paralimpíadas Tóquio 2020: confira o desempenho da equipe brasileira

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Por Raphael Favilla  •  30 de Agosto de 2021

O tênis paralímpico brasileiro encerrou sua participação nas Paralimpíadas de Tóquio. Última representante do país na modalidade, Meirycoll Duval acabou eliminada nas oitavas de final do torneio nesta segunda-feira. A mineira foi superada pela japonesa Kamiji Yui, número 2 do ranking na categoria. Dominante na partida, a atleta da casa não teve problemas para fechar o duelo em 46 minutos, anotando um duplo 6/0.


Número 28 do mundo, Duval havia batido a americana Shelby Baron na estreia. “Não consigo explicar a sensação de ganhar a minha primeira partida na minha primeira participação em Jogos Paralímpicos. Um sentimento de gratidão por todos aqueles que acreditaram em mim”, escreveu em seu perfil pessoal no Instagram logo após a vitória.


Formando parceria com Ana Caldeira, Meirycoll já havia se despedido na rodada de estreia da chave de duplas. Elas caíram diante das chinesas Huimin Huang e Jinlian Huang, também com um duplo 6/0. Nas simples, Caldeira foi superada pela russa Viktoriia Lvova, parciais de 0/6 e 2/6.


A delegação brasileira deixa como marca o fato de ter sido a maior do país para uma edição do evento no exterior, com a presença de sete atletas: quatro na categoria open masculina, duas na open feminina e um na quad.


Nas disputas individuais Meirycoll Duval foi o destaque do país, sendo a única atleta a superar a primeira rodada na chave de simples. “Eu tive a oportunidade de viver um sonho que existia desde que comecei a jogar tênis. Eu vim no intuito de representar o tênis feminino, o tênis brasileiro, e estar aqui é demais. Não é um sonho completamente realizado porque eu quero uma medalha. Vou seguir treinando e trabalhando duro, pois 2024 está logo ali, e vou continuar em busca de mais este sonho", destacou a mineira de 26 anos.


Além da tenista, a parceria formada por Gustavo Carneiro e Daniel Rodrigues também conseguiu anotar uma vitória mas não passou das oitavas do torneio.


Rodrigues e Carneiro perderam para a dupla belga formada por Joachin Gerard e Jef Vandorpe, cabeças de chave número 6 da competição. Os belgas acabaram dominando a partida e conquistaram a vitória e classificação para as quartas de final em sets diretos, parciais de 6/3 e 6/1, após 57 minutos de confronto.


Além da participação na chave de duplas, Daniel Rodrigues e Gustavo Carneiro também haviam disputado a simples na capital japonesa, porém ambos acabaram caindo na primeira rodada. Depois de cair diante do sueco Stefan Olsson, Daniel desabafou nas redes sociais.


— Sei que todos esperavam que eu fosse mais longe aqui nos jogos de Tóquio. Não sou de dar desculpas, nunca fui disso. Pra quem me conhece, jogo com dor, sem reclamar. Nunca fui de vender o que não sou. Mas a minha pretensão aqui era sim buscar medalha. Antes de chegar aqui eu era o número 11 do mundo, fiz ótimos resultados em 2019. Quando iniciou a pandemia fiquei quatro meses sem pegar na raquete. Quando voltei, treinava apenas duas vezes na semana, uma hora de treino. Consegui treinar um mês direto em Itajaí, antes de vir pra cá, graças a apoiadores. Isso me ajudou, mas infelizmente sem jogar torneios perdi o meu ritmo e consequentemente perdi meu ranking também. Acabei pegando uma chave mais difícil. Jogar contra um top 10 na primeira rodada não é fácil. Todos sabem que tenho muito potencial, mas o que me falta neste momento é qualidade e quantidade.


Muito ativo nas redes sociais, Gustavo também deixou seu recado. Ele foi protagonista de uma verdadeira batalha contra o sul-africano Leon Els. Num duelo extremamente equilibrado, o brasileiro acabou superado por 2 sets a 1, parciais de 1/6, 6/4 e 6/3, após 2 horas e 49 minutos de confronto.


— Escrevendo esse texto e muito emocionado. Olhando pra trás, vendo tudo que aconteceu na minha vida. Serei repetitivo, só hoje, a ocasião merece. 4/10/2017, lembro como se fosse hoje. Estava sentado no hospital em SP, chorando após escutar o médico falar que teria que amputar a perna. Depois de pensar muito sobre o que seria da minha vida, pesquisei e vi quando seria a próxima Paralimpíada: Tóquio, em 2020. Mesmo sem saber qual modalidade paralímpica jogaria, sabia que iria pra Tóquio de qualquer jeito. Escolhi o tênis, não seria diferente, jogo desde os 9 anos e tive muita vontade de ter sido profissional. Era minha segunda chance. Comecei a treinar em janeiro de 2018, tinha pouco tempo pra aprender e jogar bem a ponto de estar entre os 40 melhores do mundo em 2 anos, requisito de classificação. Vivi intensamente a rotina de um atleta profissional, aos poucos fui profissionalizando minha rotina de treinos, prevenção, fortalecimento, alimentação, suplementação, etc. Mas existia o desafio de viver do esporte, e entendi que além de atleta estava começando um novo negócio, teria que ser um empreendedor também, empreendedor do atleta Gustavo, e graças a Deus muitas empresas acreditaram em mim no início, algumas estão comigo até hoje, outras não, sou eternamente grato a todos. E obrigado a todos da minha família. Paris 2024 me aguarde, o bicho vai pegar lá.


Mais resultados


Top 10 mundial, Ymanitu Silva enfrentou o americano David Wagner, cabeça de chave 4 e quarto do ranking. O catarinense, que disputa a categoria quad, fez uma partida muito equilibrada mas acabou sendo eliminado por 6/3, 2/6 e 2/6. No Rio de Janeiro em 2016 ele havia parado nas quartas de final.


— Agradeço o carinho e a torcida de todos, não só por hoje, mas por todo o ciclo. Afinal, não é fácil ser o 9 do mundo. Sigo buscando melhorar, e trazer mais orgulho a vocês que me acompanham. Estou feliz em participar da minha segunda Paralimpíadas, é emocionante representar meu país, e mesmo não levando a medalha pra casa, eu sei que deixei tudo de mim em quadra. Não desisti de lutar jamais, perco uma batalha, porém na vida eu sou um campeão! Gratidão. Agora, três anos de torneios pelo mundo a caminho de Paris!


Rafael Medeiros também acabou caindo na estreia ao ser superado por Lhaj Boukartacha, de Marrocos, por 2 sets a 0, parciais de 7/5 e 6/1 em uma partida de 1h33m de duração.


— Feliz de estar em Tóquio disputando minha terceira Paralímpiada e representando o meu país, mas muito triste por não ter conseguido entregar o melhor nas minhas duas disputas (individual e duplas). Acabei enfrentando um duro desafio contra uma lesão no punho, um edema na cartilagem, que durante a partida individual irradiou para o braço me dificultando o movimento. Tentei ir para a disputa de duplas e no meio da partida não consegui dar sequência. O objetivo sem dúvida alguma era seguir a diante, mas infelizmente nem sempre acontece da forma que gostaríamos. Mas gostaria de agradecer a todos que torcem por mim, que me mandaram mensagem e energias positivas, muito obrigado! Agora é hora de voltar ao Brasil, focar nessa recuperação.


Outro representante brasileiro na chave masculina, Maurício Pomme foi eliminado na estreia ao ser derrotado pelo sul-coreano Sang-Ho Oh em sets diretos, com parciais de 6/0 e 6/3, em um duelo de 54 minutos.


Evolução em participações


O tênis entrou no quadro de modalidades dos Jogos Paralímpicos a partir de Atlanta 1996. Tivemos dois representantes brasileiros naquela edição. Na posterior, Sidney 2000, nenhum. No entanto, o que se nota é a evolução do desempenho dos atletas nacionais no circuito mundial, o que possibilita a classificação para participar do maior evento esportivo da modalidade.


Em Atenas 2004 e Pequim 2008, o Brasil teve dois atletas em cada edição. Em Londres 2012, foram cinco classificados. Desta vez, o Brasil bateu o recorde com a participação de sete tenistas, ficando atrás apenas da Rio 2016, quando oito tenistas estiveram em quadra.


"Essa evolução no número de participantes é fruto do trabalho que a CBT realiza nos últimos anos, profissionalizando a modalidade e possibilitando que nossos atletas percorram o circuito internacional. Já estamos trabalhando de olho em 2024 e esperamos que lá consigamos essa tão esperada medalha, o que coroaria o trabalho que vem sendo planejado e realizado em várias mãos", destaca Jesus Tajra, vice-presidente da CBT.


Participaram ainda desta edição dos Jogos Paralímpicos os três treinadores compondo a delegação: Vinicius Cyrillo, Leo Butija e Patricio Arnold, com Raphael Oliveira como chefe de equipe.

Foto capa: @cbtoficial

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