Tóquio 2020: mais duas chances delas fazerem história novamente

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Por Raphael Favilla  •  22 de Agosto de 2021

O tênis brasileiro fez história em Tóquio. A dupla formada pelas paulistas Luisa Stefani e Laura Pigossi desbancou favoritas e brilhou nas quadras do complexo Ariake Tennis Park, garantindo o bronze inédito para o país na modalidade.


Terminado os Jogos Olímpicos, é a vez das Paralimpíadas darem o ar da graça. E o Time Brasil de tênis em cadeira de rodas vem com tudo na esperança de repetirem, ou superarem, o feito de Luisa e Laura. Será que também teremos um atleta paralímpico brasileiro pela primeira vez em um pódio olímpico no tênis adaptado?


Faltando menos de uma semana para o início das Paralímpiadas, a Vila Olímpica de Tóquio começou a receber os atletas que participarão da competição, que tem sua cerimônia de abertura marcada para o dia 24 de agosto.


Cerca de 4.400 pessoas são esperadas na vila, entre atletas e membros de staffs. Bem menos que os 18.000 das Olimpíadas. Os mesmos protocolos serão observados, como testes diários para detectar o novo coronavírus, obrigatoriedade do uso de máscara e distanciamento social.


A delegação brasileira será composta por 253 atletas (incluindo atletas sem deficiência como guias, calheiros, goleiros e timoneiro), sendo 159 homens e 94 mulheres, além de comissão técnica, médica e administrativa, totalizando 422 pessoas. Jamais uma missão brasileira em Jogos Paralímpicos no exterior teve tamanha proporção. Na última edição fora do Brasil, em Londres 2012, o Brasil compareceu com 178 atletas, até então a maior. O número para a capital japonesa só é superado pela participação nos Jogos Rio 2016, já que o Brasil garantiu vagas em todas as modalidades por ser país-sede e contou com 286 atletas no total.


Sete tenistas vestem as cores do uniforme brasileiro na capital japonesa. São eles: os mineiros Daniel Rodrigues, Gustavo Carneiro, Meyricoll Duval, Rafael Medeiros e Ana Caldeira; o catarinense Ymanitu Silva e o paulista Mauricio Pommê.


Confira as histórias de superação dos atletas Gustavo Carneiro e Ymanitu Silva, da iniciação no tênis adaptado à realização do sonho olímpico


“O tênis em cadeira de rodas do Brasil está fazendo história mais uma vez. Pela primeira vez, tivemos uma atleta do feminino classificada diretamente, não sendo por convite ou bipartite. Teremos nossos melhores tenistas disputando os Jogos Paralímpicos, desta vez com chances reais de conquistar uma medalha inédita para o país”, celebrou Jesus Tajra, vice-presidente da Confederação Brasileira de Tênis.


A atleta em questão é Meirycoll Duval. Aos 26 anos, a mineira com má formação congênita na perna esquerda ocupa a 28a posição no ranking da classe open ITF e competirá pela primeira vez nos Jogos.



Meirycoll Duval está no top 30 do mundo na classe Open da ITF


Entre as mulheres, a classe open classificaria as 22 melhores tenistas ranqueadas para os Jogos. A classe open é aquela em que competem os atletas diagnosticados com deficiência permanente nos membros inferiores e movimentação normal nos braços.


No entanto, há limite de jogadoras por país, e elas precisam ter sido convocadas para representar as respectivas seleções em etapas da Copa do Mundo da modalidade em ao menos dois anos do ciclo olímpico, iniciado em 2017. Assim Meirycoll, situada abaixo da linha de corte, foi beneficiada com uma vaga.


“Venho trabalhando há muito tempo. Sempre foi um sonho participar das Paralímpiadas, mas com a pandemia tudo ficou incerto. Poucos torneios. Meu ranking não era suficiente para a classificação direta, mas continuamos com todo o planejamento de treino e preparação. Com o retorno das competições, o ânimo aumentou. Em maio fiz um tour de torneios, e precisava de um título para subir no ranking, pra conseguir me classificar. No último torneio da gira, no Peru, fui campeã”, lembra Duval.


Meirycoll começou a praticar tênis aos 16 anos, depois de jogar futebol e basquete adaptado na escola. Enxergou na modalidade mais do que uma chance de trilhar carreira profissional, mas uma forma de melhorar sua qualidade de vida, alinhando ganhos com saúde e no lado social.


“Quando a lista de jogadoras classificadas foi oficializada, a felicidade tomou conta. Estava em casa, descansando da viagem. Comecei a chorar de felicidade, minha família me abraçando e todos emocionados com a classificação. É um sentimento impossível de explicar. A felicidade tomou conta. Todo atleta sonha com esse momento, e comigo não era diferente. Representar o meu país, num evento tão grandioso como este sempre foi um sonho, e agora está se tornando realidade”, conta.


Outra tenista a debutar em Paralimpíadas é a também mineira Ana Caldeira. Aos 23 anos, ela ocupa a 45a posição do ranking na classe open e foi convidada para fazer parte dos Jogos.


“Receber a notícia foi muito emocionante, muita alegria e gratidão. Gratidão pela oportunidade que eu tive sete anos atrás de conhecer e começar a praticar o tênis adaptado e hoje poder representar o país em um dos maiores eventos esportivos do mundo. Recebi a notícia da primeira pessoa que me deu essa oportunidade, a pessoa que foi o mentor de tudo isso. A ficha ainda não caiu, mas vou chegar lá e aproveitar da melhor maneira possível”, contou Ana.



Ana Caldeira joga apenas há 7 anos e vai para sua primeira Paralimpíada


A pessoa citada por Ana é Léo Butija, treinador da seleção brasileira feminina de tênis em cadeira de rodas. Diferentemente das meninas, Léo está indo para sua terceira Paralimpíada.


De origem humilde, Léo conheceu o tênis ainda garoto catando bolinhas em um clube de elite de Belo Horizonte. Herdava dos sócios as raquetes quebradas. Assim pôde ensaiar seus primeiros saques e movimentos em quadra quando estas não estavam ocupadas. Hoje, aos 55 anos, Butija tem em seu currículo a participação em nove mundiais e duas olimpíadas como treinador. Em Tóquio, acompanhará três atletas de sua academia. Além de Meyricoll e Ana, Butija ele comanda os treinamentos de Rafael Medeiros. Todos eles entre os 50 melhores do mundo.


“Nós trabalhamos com tênis convencional, mas um período do dia trabalhamos com tênis em cadeiras de rodas. Já são 12 anos com tênis paralímpico. Da iniciação, pensando na inclusão social, até alguns casos voltados para o alto rendimento. É o caso da Meyricoll, da Ana, do Rafael Medeiros. Ele, por exemplo, está com a gente há mais de 11 anos. Com ele não tive esse pensamento de inclusão social, porque quando o conheci ele já jogava. Nos últimos dois meses intensificamos muito o treinamento dos atletas que vão competir em Tóquio, deixá-los o mais bem preparados possível e extrair o melhor deles. Treinamos todos os dias, tem fisioterapia, recuperação física…”, detalhou Butija.


“Estamos treinando bastante, ansiedade a mil. Do último mês para cá conseguimos treinar mais vezes por semana, mais horas por dia. Isso tem sido muito importante para a nossa preparação. O Léo conseguiu viabilizar pessoas para que tivéssemos o melhor treinamento possível durante esse período que antecedeu o embarque para Tóquio”, completou Ana.


Sobre a preparação para Tóquio, Ana revelou sua surpresa em fazer parte do Time Brasil já nesta edição dos Jogos.


“Meu ciclo foi de sete anos treinando bastante. Meu objetivo maior não era Tóquio, mas Deus nos deu a oportunidade de sonhar com esse momento, e a gente conseguiu. Então só posso agradecer ao Léo, meu técnico, que fez um trabalho excelente desde o início, que me proporcionou tudo isso e é uma felicidade imensa representar o país junto dele. Tive diversos resultados que foram muito importantes para mim, não sei escolher um porque todos tem o mesmo valor. De dois anos para cá as coisas aconteceram muito rápido. Minha primeira convocação, a segunda convocação, classificação para o Mundial e agora as Paralimpíadas. As expectativas são as melhores possíveis, a gente tem que dar o nosso melhor. Fazer um pouco do que a gente vem trabalhando todos os dias durante todos esses anos”.



Meirycoll treina forte em BH na preparação para Tóquio


“Esporte é vida. Sempre falo em minhas entrevistas: quem tem a oportunidade de estar dentro das quadras ou praticando qualquer outra modalidade tem uma qualidade de vida melhor. Eu falo porque o Esporte mudou minha vida. Se eu sou quem sou hoje eu devo ao tênis em cadeira de rodas e a tudo que o esporte me proporcionou durante todo esse tempo. Que as pessoas pratiquem mais, cuidem mais da saúde. Mesmo que não seja profissional mas que busquem estar fazendo algo que faça o bem para si todos os dias, e o esporte é a melhor maneira”, finalizou.


O Comitê Paralímpico Brasileiro anunciou que pagará R$ 160 mil para cada medalhista de ouro em modalidades individuais. A prata renderá R$ 64 mil, e o medalhista de bronze terá direito a R$ 32 mil.


Em modalidades disputadas de forma coletiva, por equipes, revezamentos e em duplas, a premiação individual terá valor inferior. O ouro valerá R$ 80 mil para cada integrante, a prata, R$ 32 mil. A conquista do bronze vai gerar uma gratificação de R$ 16 mil.


Créditos fotos: Capa  @ocpboficial / Instagram Ana Caldeira

                         Internas  Instagram Meirycoll Duval / @carol_aguiarfotografia / @_anacaldeiratcr


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