O monstro chamado Djokovic

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Por Diego Werneck  •  14 de Junho de 2021

Por Diego Werneck


Controverso fora das quadras, onde protagonizou cenas infelizes especialmente nos recentes tempos de pandemia, mas por outro lado um showman, que com seu jeito descolado e muito bem-humorado entretem como poucos na atualidade o público e cativa admiradores mundo afora. É também muito bem quisto no meio pelos companheiros de profissão e até de outras modalidades esportivas, onde se relaciona com desenvoltura e cultiva amizades.


Esse é um pouco do perfil que conhecemos de Novak Djokovic, ou simplesmente Djoko ou Nole, como ele próprio se chama nas redes. Como tenista profissional, seus resultados impressionam e os números não deixam dúvidas: o sérvio já está entre os maiores da história do tênis profissional, tanto na Era Aberta quanto considerando também o período amador.


E a tarefa está longe de estar sendo das mais fáceis. Atuando em um período de ouro do tênis profissional, no qual já temos o privilégio de testemunhar outros dois dos maiores tenistas de todos os tempos - a lenda Roger Federer e o ultra-competitivo e talentoso Rafael Nadal -, Djokovic não se intimidou, acreditou no seu potencial e vem brilhando nas quadras, jogando em altíssimo nível há muitos e seguidos anos. O tênis mundial, que já havia presenciado disputas épicas de outras gerações não menos talentosas com nomes do naipe de Agassi-Sampras, Lendl-Becker, McEnroe-Borg (e por aí vai, a lista é extensa), assiste perplexo e admirado tempos em que temos três jogadores fora de série, brigando pelos principais títulos do circuito.


Para se ter uma ideia da dimensão do que estamos vivendo nos últimos 15 anos, estamos falando de nada menos que 59 títulos de Grand Slams conquistados (o sérvio está agora um título apenas atrás de Roger e Rafa, que têm 20 taças cada). Perceba que, em uma conta simples, 15 vezes quatro (quatro torneios por ano, em 15 anos) dá 60, ou seja, basicamente os três venceram todos os Slams nas últimas 15 temporadas de absoluto domínio, praticamente desde que começaram suas carreiras, na metade da década de 2000.


A vantagem, digamos assim, a favor do sérvio é que ele se tornou o único - não apenas entre eles três, mas em toda a Era Aberta do tênis, que começou em 1968 - a ter vencido cada um dos quatro Slams pelo menos duas vezes. Isso não é pouco, tendo em vista que se tratam das três diferentes superfícies nas quais o tênis é jogado (grama, saibro e quadra dura) e que, via de regra, a grande maioria dos tenistas (pelo menos os “normais”) é especialista ou pelo menos tem preferência por um tipo de piso. Portanto, vencer mais de uma vez os principais torneios do mundo em cada uma das superfícies é extremamente difícil. É para poucos.


Se já não bastasse esse feito, Djoko aumentou sua liderança em relação ao suíço e ao espanhol na quantidade de grandes títulos conquistados, que consideram, além dos Grand Slams, ATPs 1000, ATP Finals e Olimpíadas. Agora são 60 troféus dessa grandeza para ele, contra 57 de Nadal e 54 de Federer. E o sérvio ainda lidera também nos torneios categoria 1000, com 36 títulos, empatado com Rafa e à frente de Roger, com 28. O único zero no scout do atual número um do mundo é em títulos olímpicos, no qual apenas Nadal tem um ouro. Em Finals, cinco taças para Novak, seis para Federer e nenhuma conquista até agora para o espanhol.


Importante destacar que na final de Roland Garros desse domingo, Novak enfrentou um dos mais talentosos tenistas da chamada new generation, o grego Stefanos Tsitsipas, em uma virada dramática de uma partidaça decidida em cinco sets. E ainda tinha enfrentado e vencido o próprio Nadal, detentor de nada menos que 11 títulos em RG (recorde histórico do Slam francês), nas semifinais. Por tudo isso, há que se render à competitividade desse fantástico tenista, que mantém o sarrafo lá em cima por muitos anos, superando inclusive Nadal e Federer, na minha humilde opinião dois dos maiores da história do tênis mundial.


“Gosto de jogar partidas de melhor de cinco sets contra esses jovens talentos do circuito, porque sei que, mesmo tendo uns anos a mais do que eles, vão me dar uma chance de ganhar ao longo da partida”, disse o sérvio, após virar o jogo contra o italiano Lorenzo Musetti, nas oitavas de final em Paris, quando também perdia por 2 a 0.


Não é para qualquer um. É para Novak Djokovic.


Crédito imagem: Yann Caradec



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